domingo, 30 de novembro de 2008

POEMINHA

Novos dias virão apesar da chuva intensa que agora cai
Apesar do mangue que agora estamos,
Da cegueira quase eterna,
Apensar de tudo parecer tão fútil
E as lágrimas sejam tão correntes,
Correntes vão se desatar como o desabrochar das rosas
Sóis tocarão nossas face
E em face disto tudo ei de ganhar um escudo chamado poesia

sábado, 29 de novembro de 2008

VISÕES

Ao longo do jardim apenas o olhar
Sobre as flores e ao fundo a mata
O lance do olhar sobre o vôo da borboleta a dançar no ar
Chapada ameaçar o céu, guerra eterna no fim de tarde
Onde o céu ferido sagra rubro-róseo,
Pavor das fadas e gozo dos anjos caídos
No bojo dos fins de tarde, aqui onde chamamos terra
Deu hora de sangue, deu hora cinza, deu hora de sono
Descendo nova cortina, novos atores num palco negro
Onde brada um luzir de homens e mulheres
Que uma vez na terra se fizeram sangrar,
Para que suas sendas de luz nos pudessem chegar
Ao longo do céu, este outro jardim, apenas o olhar
O seio que teme o escuro que anseia o novo
Dança na roda de desejos.
Dúvida cruel:Viver na eternidade, eu floresta imensa dentro de mim
Ou a rosa singular, vivendo para o povo.
Ao longo do céu, guerra eterna no fim de tarde
Arde uma batalha de rosas, pouso do vôo de abelhas
E em mim as centelhas das cores em minha retina
E as sensações que em meu peito ardem


Foto: Beatrix Krüger

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

DESEJOS EM SILÊNCIO


Te quero...te quero com o mesmo tempo que o egito teve para crescer,
Que os carcófagos tiveram para dormir...
Te quero com a mesma força do sol,
Com a mesma calma das águas do lago, do canto cisne, do passo do leopardo.
Te quero com o mesmo tempo de mil luas a descer pelas montanhas,
Com o mesmo balanço das ondas, do sopro do vento, da insistência imóvel das rochas.
Te quero tranquilo, como o balão da tingir o céu turmalina,
Eterno como os segredos deste mundo, imortal como tua própria alma.

FOI A NOITE



As ruas pela manhã ainda têm o cheiro do sangue
Escorrido pela madrugada.
À noite, antes bela e romântica, torna-se fulgaz, assim como as vidas que por ela caminham, somem, como a água que escorre pelo ralo e some no submundo.
O cheiro de morte, de sexo, de drogas...
As noites de hoje, é isto que inspira ou atemoriza os novos poetas.
As liras tocam em outras claves,
As danças em outros passos,
As pinturas noutras cores,
Onde reflete o céu cor de chumbo
E o gris da lua com seu olho medonho a nos observar.

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

CONFISSÕES


Ainda cá, no mesmo local de sempre
Vivo com meu olhar de cão perdigueiro.
Não a caçar perdizes, mas na mesma ânsia do cão faminto,
Caço sobre o mundo, as nuances dos finais de tardes.
Ainda caço o negror da pupila reluzente a me olhar pelo canto do olho,
Assim como ainda insisto nas buscas das pele brancas e trigueiras ao longo das madrugadas.
Persigo após o pó das eras, a última gota do cuba libre,
Que me solta os instintos mais primitivos...
Com a lupa sobre o mundo meu anjo, rastejo a língua como uma cobra,
A perseguir os sabores, o olfato os cheiros e a retina cansada,
As matizes que pousam sobre o meu opaco olhar.
E cá estou sobre o mundo, sendo eu ainda o mesmo:
Esta forja de pecados e mesma labareda de desejos.
Foto: Renato Luiz Ferreira

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

ORAÇÃO


Eu, quando muito, rezo de vez em quando
Rezo pelos prados, pelos rios, pelos mudos
Rezo pelos cegos, bêbados, rezo pouco
Mas quando rezo eu sempre sangro

Sangro pelo olhar, pelos poros, quiçá pela alma
Mas nada do que falo é atendido
Palavras somem no ar, como um balão desprendido
E assim somem as esperanças, perco a calma

Perde-se a visão, o olfato, tudo em fim
Perde-se o fio que prende o corpo a alma
O fluido das veias, a força motriz da vida
E o espírito assiste de longe o corpo que a pouco tinha
Como as uvas fermentando o chão, desprendidas da vinha


quarta-feira, 19 de novembro de 2008

TEMPO PARA MAIS UM PECADO



Sempre tenho tempo para mais um pecado
Sempre tenho muito tempo para contar cada brisa
Sempre com os pulsos firmes para levantar as saias
E se mesmo assim as fadas não me quiserem
Não há como não me deixar voar


Mesmo que não haja mais o galope
Haverão meus passos sobre a estrada
Mesmo que os anjos nos abandonem
Resta-me a minha própria luz
E mesmo que haja a rejeição das fadas
Ainda há o lupanar do céu
E as estrelas como cada meretriz que me seduz

AINDA ASSIM



A espera do crepúsculo, do alto da torre
A sangria imensa dos faróis vermelhos
A turba gigantesca a buzinar
A bruma cinzenta sobre os carros
E daqui de cima eu a tragar o rum
E lançar no ar a fumaça do cigarro

O traseunte cego pelo delírio do ter que chegar
Cego e não vê as vidas que por ele passam
Cego ao por do sol, a água como prisma
Cego ao lento e leve vôo do pássaro


O Condutor cego pelos cristais da chuva
Cego pela ira em ter que esperar
E mesmo parado ninguém espera
E ainda assim esperam ver o mundo mudar...
E ainda assim esperam ver o mundo mudar...
Foto: Mariis

sábado, 15 de novembro de 2008

SONO



Dorme no ventre dos lírios
Nos ventos da noite que envergam os trigais
Dorme sob as vozes dos martírios
Ou com a benção dos orixás

Dorme com o mistério do Egito
Com o seio em conflito
Com a voz deste meu grito
Que tomam as formas dos vendavais

Dorme sob as carícias das brumas
Sob os sons destas ondas
Que teus pés vem beijar

Dorme com as sismas das matas
Sob o calor destas asas
Sob o vento na fragatas que a levam ao mar


Foto: Felipe Morgado

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

DELÍRICO CEARÁ


O que fazem, os dias passados em minhalma
Sem ter ardido o sol em minha pele,
Sem os vapores da terra em meu corpo,
Sem o dardejar de ventos vindos das serras
Rebatidos pelos seios dos chapadões que motivam meus sonhos,
Para além do horizonte que desenha-se sobre meus olhos?
O que fazer sem os dias, sem as tardes que possa levitar como as folhas de outono?
O que fazer sem o hálito do mar, sem as rendas que se dipersam na praia e que muitos as chamam de ondas?
São nesses passos lentos que percorro meu caminho quando o sol põe-se a sangrar no final da tarde, tingindo a dor do final do dia e talvez lá também sangre minhas angústias e a saudade que tenho de tí...
Continuo a galopar entre os rios ao passo que o luar espia-me com um só olho...
No balanço das árvores pulso em cada folha que nasce, e em cada raiz a correr os sais necessários para o bradar da mesma.
O bradar em silêncio que cada árvore faz no meio dos vendavais, envergando seus galhos ao sabor dos ventos como quem gesticula.
Assim prossigo em monólogo com as conchas e com tudo que possua uma olhar que vaze harmonia, assim como os teus que agora em repouso, em algum lugar deve sonhar...
Sonhar com as notas dispersas de alguma lira e o com voz metálica de algum poeta que possa descrever as paisagens verdes aos seus olhos cerrados pelo sono e pelo negror da madrugada.
Ao longo desses dias em que sonhas, percorro as trilhas que o poeta a descreve e com sorte talvez possa eu aparecer nas mesmas.
Quem sabe no violento vermelho, róseo, laranja do tarde, no sabor das liras ou vibrar dos versos que um dia fiz a tí.

sábado, 8 de novembro de 2008

VINHA SUTIL

Vinha de livros apertados nos seios
Vinha de passos tão curtos, com tão grande enleio
Vinha no compasso dos ventos, de brisas e minuanos
Vinha leve, líquida, aliás, vapor!
Era o próprio ar. Não era a pena, nem a escrita
Era o nascer na mente da própria poesia
Quem era? Era ela ora...ela era a própria poesia
Tinha os olhos de graúna, as vezes de abacate.
Tinha os passos ligeiros na dança
Tinha em seus cabelos tranças por toda parte
Tinha, tinha...tinha tanta coisa que esquecí de mim
Esquecí de mim...esquecí...

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Por mais que o mundo faça um esforço medonho para nos por mordaças, simplesmente algumas pessoas de talento não resistem e grunem mesmo com o pano enfiado na goela. Outros mais livres ainda não são postos com grilhões, mordaças, algemas ou qualquer coisa que o condicione. São os raros espíritos livres que no meio de tantos versos que lemos hoje em dia realmente podemos dizê-los poetas. Abaixo um dos poemas do amigo Lupeu que está entre os poucos poetas verdadeiros que conheço.


O celular me liga no mundo e sei, continuo desligado. detesto isso de ser achado a qualquer hora. Gostava quando os telefones viviam presos. Iguais a cachorros ferozes. Presos em suas cordinhas enroladinhas. A gente via eles lá, nos cantos das paredes, cobertos com pequenas toalhas de crochê, ou as vezes, presos também com pequenos cadeados. Um dia eles se soltaram. Pularam das paredes para os cintos. Depois para as bolsas, os bolsos. Um dia, vão andar sozinhos. Falar entre si. Planejar a destruição de todos os humanos.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

APESAR DE TUDO


Mesmo com o fel que homem moderno
Deixa escorrer pelos cantos da boca
Ainda ecoam o trinar dos canários, n'algum lugar
Lugar, no planeta chamado poesia

Mesmo ao som das metralhas
Batalham nos céus o estalar de rimas
Sangram as papoulas nos prados
E mesmo ao corte do machado
Nascem nos grãos bombardeado pelos pássaros
A esperança em cada semente expelida
Esperança em forma de poesia.

Ainda assim, mesmo com o peso dos grilhões
Atados em meus pés...não seguram-me a noite
Ao sabor dos ventos os sonhos voam...
Desata o espírito e fica o corpo que jaz na laje fria