terça-feira, 16 de dezembro de 2008

ÂNSIA

Na mão fechada uma rosa e no peito as dores do mundo,
No olho enfurecido, o ardor de um vulcão
A mente fixa da idéia, vento na vela,
Os passos firmes com perfeita direção

Um sonho, com a boca cheia de ar sopra as velas
E aquela idéia de mudar o mundo, fixa na mente
Parte do coração
Ação proposta de mudar, de pintar uma nova tela
De derramar um bálsamo sobre o mundo malsão

Sonho e ação dada a necessidade
De mudar, bombear o mundo com próprio coração
De soprar a bruma que oculta a verdade

De ver o que arde no âmago deste vulcão
De ler esse diário, uma lágrima de caridade
Sonho de soprar as velas com a força de um tufão.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

PESARES

Apesar de tudo, e dos sentidos que aguçamos
Como o limar de uma pedra sem fim
Permance o opaco sobre os olhos
E uma nuvem intensa sobre a paisagem

Os elefantes, pelo delírio vôam
E as borboletas diferente de antes
Rastejam a vaidade de suas asas sobre a gleba
Nada mudou, mas tudo enfim não há de permanecer o mesmo

Não ao mesmo sol a vazar sobre as arestas
Das frestas das fendas de minha porta
Corta então o tédio arenoso sobre mim
Pois a vista perdida na paisagem,

A catar as migalhas da realidade
Que me encaparam entre os dedos
E agora resta-me o medo,
Dos segredos deste fardo, que arde sobre mim

EIS TUDO DE MIM

Nas rodas desta engrenagem que mastiga meus sonhos
No solo deste palco, num ato interminável
Estou a rever a mesma cena burlesca e irascível
Onde me despertam os brados mais medonhos

Quem sou nesta imensa teia de reações bioquímico-sociais?
Sou a sombra misteriosa dentro da bruma
Sou o estalo das ondas sobre as rochas, sou a espupa
Sou os arlequins funestos dos carnavais

Sou o brilho ocre no dente do velho
Sou o escavelho fomento entre as carnes
Sou o todo, o meio, enfim, sou as partes
Que ardem no fogo de vida ou morte deste prélio

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

IN NATURA

Assim como os bites dilacerando o tempo
A correr na impulso frenético da fibra ótica...
Assim também explodem os vermelhos das rosas
Na interminável complexidade bioquímica nos campos

Sabedoria eterna que o homem que por mais que se diga mister, ainda muito ignora.
Nem as tintas de tua tela interminável
Assemelharão as sutilezas das penas, das luzes,
Das tardes, dos brilhos dos olhos...

Erguerá mil ve-las, mas tua invenção, teu escaler,
Tua nau está sujeita ao açoite dos ventos
Ventos imprevisíveis por sinal.

Falará mil linguas, mas não explicará a harmonia
Eterna que há no âmago da própria existência de cada ser vivente.
Desiste então deste colóquio cansativo,
Deita as pálpebras um instante humildemente e sente.

Ergue-se homem, com teu brado sobre a natureza,
Mas de tempo em tempos saberás que é apenas peça,
Parte ínfima das entranhas desta fortaleza.