segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Rua

Rua, nua de tortuosas imagens que percorrem teu coração
Rua, veredas tuas tão vorazes que me erguem ilusões
Rua de caminhos estreitos, eu que me perco em teus eixos
Que temo os dentes de tuas feras na esfera que vejo o futuro
Em cima do muro, como a cigana que leu a minha mão.

Trincheiras interrompem mil passagens onde findaram meus planos
Ando, em rumo incerto certo que estou perdido nas quimeras mais medonhas
Sonhando com essas minhas vadiagens que me deram tantos danos
Manco, por tuas ruas e avenidas que de certo também está perdida
Como um ciclope em um tufão.

Vêem-se ruas novas e esburacadas, vê-se que sofres tão caladas
Nessas urbes onde turbas tão dantescas movidas só pelos desejos
Foram por vezes o ensejo, o mote que vós tão bem rebatia
Com um solfejo de alegria, como uma mentira necessária
Como uma maquiagem de cor púrpura sobre a face anêmica.

Ruas, onde me levas não sei, não sei de nada
Por tuas bussolas obsoletas, perco-me em tuas setas
Que só me levam aos labirintos, dos teus mais feios instintos
Só me levam ao alçapão de teu coração

Foto: Fernando Jorge Lima
Fonte: http://olhares.aeiou.pt/rua_direita_de_viseu_foto1344192.html

sábado, 8 de agosto de 2009

A origem da minha espécie

Filho das palavras que truncam
Dos risos negados
Das regras que burlam
O que me foi tão negado

Filho das putas que gozam
Filho das rosas nos prados
Das lâminas das facas que podam
O que outrora foi sonhado

Filho de um câncer que come
Os nervos feitos d'aço
Filho da coragem que some
Filho das chagas e do cansaço

Venho da utopia mais rala
De quimeras medonhas
Ergo com a força motriz de quem sonha
E da placenta do impossível renasço

Imagem: Marcos Moreno
Site:http://br.olhares.com/bebe_del_desierto_foto2637692.html

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Mulher

Surgiste dos vapores da terra, das luzes do sol, dos mistérios da lua
Singular surgiu dos acordes das músicas, do rimar de meus versos
Surgiste então das trevas, das brumas com olhares perversos
Surgiste com o poder onipotente que eu como poeta, só tu'alma possua

Surgiste dos alísios soprados nas serras ou de um tufão
Das pétalas jogadas ao chão, das liras dispersas
Surgiste dos deuses gregos, maias, dos incas, dos persas
Surgiste como bálsamo para as chagas do malsão

Melaste com a cor de teus olhos, com calor de teu hálito
Com as mãos quais pétalas de uma flor singular
Surgiu em minha vida como a água em um páramo
Com as luzes que por milagre surgem numa treva sem par.

Foto: Geisa
Fonte: http://br.olhares.com/alma_de_mulher_foto1102719.html