segunda-feira, 20 de abril de 2009

CANSADO

Eu que tenho muito a dizer
Que por mil porquês sempre fico calado
Cansei dessas primaveras cratenses de flores murchas
Cansei de crepúsculos nos prados
Dos contos, de histórias e de bruxas

Cansei da roda-viva no ataúde
E que nesta cidade, em amiúde debulham meus pecados
Eu, que já não me desvio dos dardos
Não suporto os tiros de carabina

Eu que sorrio de boca aberta na neblina
Que danço balés nestas ruas
Que nuas abrem as penas para mim.
Eu, que outrora atingido por mil carabinas
E pela chuva de canivetes dos pivetes
Hoje, como poeta, decreto que tudo que é fogo vire neve
E que tudo que me atinja seja de festim

Foto: Gabriel Gonçalves

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Não vale mais

Não há mais porque cantar,
Nem porque colher rosas nos jardins
Nem reagir a piscadela do olhar
Não há voz, nem flores a colher nem moça para piscar

Agora não há mais porque chorar,
Nem porque lê os sábios, ou as sabiás.
Ninguém com olhos para ouvir,
Tampouco porque bradar.

Nunca houveram sábios tão tolos
E tão roucas as sabiás.
Não há mais nesses tempos "modernos"
Um só motivo para se poder amar
As vidas se resumem a tolos estudos em mil cadernos
E um batalhão de insensíveis querendo se empregar.

Não há mais a violência do beijo
A meiguice de um tapa pelo descontrole dos ciúmes
Há sim o cume da indiferença
Que é a mais nova crença: creio no que tenho, no que compro.
Creio mais no brilho da faca do que no sabor do queijo!

Foto: Ana Rita Vaz Cruz
Fonte: http://br.olhares.com/

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Fragmens

Segunda-feira, dia 13 de abril pelas 20h, inaugura a exposição ‘Fragmens’, por Rogê Venâncio

Fragmens
Análise por Renato Dantas (Ator e Diretor Teatral)

A modernidade construiu o homem vendo-o nas relações sociais baseadas na dualidade capitalismo x socialismo, promovendo uma dialética ética e estética, onde a proposta de um homem novo não chega a termo, visto que a queda do muro de Berlim sinaliza uma terceira via. A arte, testemunha e propositora de mudanças, desconstrói o homem e o mostra numa perspectiva pós-moderna.
Através do visual, ‘Fragmens’ aponta caminhos que podem ser percorridos pelo gênero humano, onde a arte seria o norte do reinicio de pesares e fazeres da mulher e do homem pós-moderno..
Aí é que Rogê Venâncio propõe novos rumos para este homem, desconstruindo seres e coisas para apresentá-los como proposituras através da colagem.Com as séries: ‘Juazeiro a cena da fé’, ‘Desconstrução’ e ‘Fragmentos’, em um total de treze obras, o artista clarifica a sua intenção no ver o passado, andar junto ao presente e vislumbrar um futuro.
Juntando elementos analíticos (concretos e abstratos) propõe em sua reconstrução uma síntese onde as coisas e os seres se ressignificam, mostrando protótipos de um novo homem, uma nova sociedade.
A desconstrução de Rogê constrói outros rumos.
Fonte: www.olharcasadasartes.blogspot.com

quinta-feira, 2 de abril de 2009

PRAZERES MÓRBIDOS

No trovejar da noite
Nos delírios do gozo
Eu sobrevivo junto da ossada dos transeuntes
No bojo dos pecados, no bico do seio
Na paz das pombas,nas línguas das gírias das putas,
Na luz de suas grutas, fontes de tesouros
Onde de gozo em gozo reluz o ouro
Sobre a face faminta da solidão.
Foto: Paulo Almeida (Pasma)

RÉQUIEM PARA UM CRATO MORTO-VIVO


Quando debruçares o olhar sobre o dorso das montanhas
Quando tuas entranhas revirarem-se de ódio
E tuas façanhas e tuas magias te projetarem ao feio pódio
Estarei olhando bem de longe teus pecados
Tua fisgada no anzol da cobiça
Teus demônios lançando aos céus o furor do champagne e da cortiça
Para em breve te cobrar em fardos.
Estarei muito longe, a ver a luz bruxelante apagar-se,
A ver anoitecer em teu coração e as trevas densas
De tão intensas, porem as mãos do glaucoma em tua visão.


Foto: César Prata
Fonte:
http://br.olhares.com/

quarta-feira, 1 de abril de 2009

FAZER O QUÊ?

Fazer o que, se não há o que dizer
Vai sair, nova estrada, novos rumos
E sem rumo eu vou andar por aqui
Sem mais ter o que fazer, só olhar você sumir num horizonte sem fim.

Mas há de olhar, neste teu ser,
Que ainda estou dentro de ti
Como sol a ter esquentar e te fazer brilhar
Um bilhar inquieto dentro de ti

E ventará, um só soprar, estas cinzas para longe
De você, de mim. Pois em vou estou eu,
E você está eternamente dentro de mim.

Não adianta ir, pois como um sol,
Estou eu dentro de ti, dentro de ti.

Imagem: William de Bouguereau.

JÓIAS SEM FIM

Em todos os meus sonhos
Nos mais caros enfim
Eu enfeitava o teu corpo
Com mil bijuterias sem fim

Um colar de quase pérolas
Um dourado meio fosco
Uma prata nada cara, pois...
Pois tesouros sem fim estão dentro de ti

Dentro de ti meu amor há sim um universo sem fim
Dentro de ti de verso em verso
Saem pérolas, que todo o resto
Nada mais é do que festim

Em todos os meus sonhos tu reluz
Rutila em teu ser sóis exalando jasmim
Nada mais que sóis exalando jasmim
Isso sim, são jóias sem fim, isso sim, isso sim...
Foto: Kristinna