segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Muito Claro

É claro, é muito claro
Que as hastes das rosas envergam
Quando os ventos sibilam nos prados
Que os olhos reluzem como o orvalho
Em prisma, quando olhos outros
Farejam e fitam o mesmo olhar.
É claro que o tato, que a pele-veludo
Sente o toque, o lábio pousado no lábio
Como conchas que se fecham
Para nascer à pérola do toque das línguas
No côncavo e o convexo dos beijos.
Tão claro é que os cheiros dão pistas
Para os faros atentos, que cercam
As peles, os cabelos ao vento,
Ao perfume que lateja no ar...
É claro que ainda te vejo,
No aroma do café que eu bebo,
No vôo do pássaro,
E em lágrimas que por vezes
Insistem em brotar.

Imagem: Claudia Morais

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Sonhos de Poesia.

Na contabilidade dos sonhos,
Os medos, as rédias e os freios
Farejam nos calcanhares dos sonhadores.
O sonho no voo da bailarina,
No passo do dançarino,
Na pincelada sensível na tela
Estão os passos que marcam
As pegadas da evolução do homem na terra.
O poema vibra no estalar
Das vagas que se fazem em espumas
Como rendas no ocre da praia.
O sonho está onipresente,
E a poesia vaza seus versos
Em qualquer lugar.

Foto: Rui Pedro Queiroz

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Arte de Caíssa


Os meus dados continuarão sendo lançados
E as peças desse xadrez infindo,
Nos cavalos em "L",
Nos bispos em diagonais,
Nas torres imponentes,
Continuarão a moverem-se em minha defesa.

Embora a saudade brilhe,
Como ponta de facas sob a luz do sol
Assim brilham os dentes dos eqüinos
Que defendem-me, tal qual rutilam as
Torres de marfim.

Eu, cá, do alto do tabuleiro,
Até onde posso, movo o jogo
Mas não hei de negar, que pelo
Impulso de um par de olhos
Negros, ou azuis,
Por um par de pernas morenas
Ou um rosto níveo,
Talvez,(para não dizer certamente)
Já tenha me deixado
(ou já me deixei) levar pela brida
Irracional e irremediável
Das delícias das paixões.

Pois cá elas estão.
Entre a sorte dos dados
E o fio da razão,
Na guerrilha de Caíssa.

Foto: Julio Pinotti