domingo, 28 de março de 2010

Teu nome dentro da noite.


As mesmas bocas ainda balbuciam

Teu nome em silêncio, como um vício

Nas dores frenéticas da solidão

E a palavra repete-se em rimas no poema

E a cada dia as bocas vão falar

Jogando tuas sílabas, como partículas

Suspensas no ar.

São poemas em cascatas que ninguém lê

São quadros que ninguém quer mais ver

São camadas de amores que ninguém

Quer olhar.

O tempo como réstias, nesta valsa

Insiste em passar

Para por séculos não vê?

Repete-se teu nome por era

Desde quando teu nome era espetacular

Espeta a lua com estes versos

E ponha-a a sangrar. Pra que?

Para sorver este poema da noite

Que escorre denso na noite. Pra que?

Somente para poder esta noite

Te cortejar.

Foto: Flávio Martins

sábado, 27 de março de 2010

Tempo escultor.

O tempo molda as faces
Ao passo que o espírito cresce
Para florescer seus passos
Quais pérolas pela estrada.
O tempo, capital da vida,
Mastiga-nos os ossos,
Matéria prima das vitórias sublimes
Que nos cobram o abandono
Da matéria medíocre
Para dar-nos o lucro do vôo,
Sem grilhões que nos prendem
A esta atômica realidade.
O tempo é o mesmo senhor
Que mastiga as faces medíocres
E esculpe os espíritos sublimes.

Dias Opacos

Haverá um dia, onde os prados estarão inertes
E a poesia nostálgica, modo uno de lembrança
Será chuva para regar a saudade
E adubo para a falta de esperança.
Dia que certamente não será tarde
Eu estarei lá em espírito
Para celebrar a poesia,
E talvez chorar pelos prados
Que em meus olhos o sol já não vibra
Não reflete nada, e nem minha pele
Tampouco não mais arde.

Foto: Lino Matos

Embora lindo...

O dia hoje está bonito, nublado
Como gosto.
Mas sempre haverá o rubor
Violento das rosas
E seus acúleos qual lanças
A ameaçarem a paz destes prados.

segunda-feira, 22 de março de 2010

Poema Surreal

A manhã chuvosa, e o sol com seu olho dourado
São unidos, em sua totalidade um só corpo
Com as delícias de um só corpo,
Com os seios firmes e a pele macia,
Com os cabelos e olhos castanhos,
A pele trigueira.
A pele desta manhã com cara de outono
Cravejada de delícias e pecados
Murmuram desejos medulares
Com a força de placas tectônicas
Que latejam dentro da alma
De casa ser. Basta existir
Para haver força e poesia dentro
De sua alma.

Foto: Daniela Moura
Fonte: http://br.olhares.com

quinta-feira, 18 de março de 2010

De vez em quando.

Apaixonado, meu peito ruge
Como um leão no coração da Tanzânia
E dança leve como nas valsas de Viena
Em um século distante.
Apaixonado, meu céu é rubro como
Os fins de tarde do Pantanal,
Mas mesmo assim com essa violenta
Paisagem, voa leve, muito leve
Como os querubins das pinturas
Ou como os quero-queros
Que sobrevoam meu quintal.

terça-feira, 16 de março de 2010

Poema em homenagem aos mortos da Rússia, China e Cuba.

Quando eu estiver ferido Maria,
Correres sem parar, não olhas para trás
Que as medusas e os falsos profetas
Ameaçam, mas não ferem,
Amedrontam mas não vencem.
Quando meu sangue correr,
E verter sobre o prado a grossa
Essência do meu ser, corre, voa lépida
Sem pavor, pois não há o que temer
Pois o sangue florescerá na próxima rosa
E nesta rosa estará meu ser.

Existência e Pecado

Minha existência, minha face,
Minha pele trigueira e meus pecados venosos
Perdidos na sintaxe da alma
Dormem em sono profundo,
Com as membranas pesadas pelo lirismo
Que me força em delírios, de lírios em lírios
Poéticos, nos umbrais ou paraísos
Do onírico.

Vem olhar, meus sonhos
Com as lentes polidas e atentas,
Vem olhá-los, com os faros do pecado,
Com ânsias de sabores de sangue,
Com tato eriçado, e achará o fardo
Da poesia sincera e os mais altos brados
Que o meu mais feio pecado foi amar.

sexta-feira, 12 de março de 2010

Na última hora.

Quando me atingiram na face
No dia que eu cantava nos prados
Fugi...
Fugi pisando nas pétalas de rosas
E meu sangue, tingindo-as de rubro
As feridas, arrancadas nos trocos
Das árvores caíram ao chão,
Expondo as chagas? Jamais
Expondo o perfume que exala
Meus poros...
Quando no último salto,
De um abismo para o outro,
Alvejado no peito.
A bomba quase (e) terna parou
E infestou de azul,
(A cor que foi possível)
O céu... já que pelo menos
Nas pétalas já tinha deixado
Minhas pegadas.

Foto: Sónia Cristina Carvalho