quinta-feira, 18 de junho de 2020

DIAGNÓSTICO DO TEMPO




O verso, soldado nas vigas do tempo
Nem sempre cede às erosões
A tudo que lhe é adverso, rufiões
Que grunhem por ausência de talento

A sophia, perene é única e verdadeira
Não lateja e nem porfia em toda esquina
Onde o falso vate se amesquinha
Qual verso paraplégico que serpenteia

A Lei, que por vezes manca vacila
É a ilação das tão novas gerações
Ausentes de vossos corações
Uma razão... centelha que já não mais sibila

A horda de pigmeus infantes
Bastilhas se quedaram esfaceladas
Espectros do mal mais triunfante
Gigantes de pernas agrilhoadas

Eis o exame de uma era burlesca
Onde o asco se ameniza com a lembrança
Bucólicas paisagens tão pitorescas
Melancólico o tempo da intemperança

Antonio Sávio Nunes de Queiroz

VIDA




Do feixe primeiro que luzia
Brandia aos tímpanos o berro agudo
Varão ou varoa que nascia
Despido de espada ou qualquer escudo

A vida que se perfaz no maçarico
Da forja que molda cada caráter
Burila a rima em estribilho
Fogos brilhantes para o bláster

E ai de quem por ela queira atalhos
Encurtar a cruz, vingar o peso em etéreo
Teu corpo se fará em mil retalhos
Teus ossos dinamitados sem nenhum mistério

É mister, pois quem ergue-se na cruz
Um Cristo, um Jó para não carecer de guia
Como um oleiro com água fria
Faz a liga, molda o barro em alcatruz

A vida, pois que nada dela sabe-se
É mistério no espectro a se submeter
Também é decisão que insere-se
A moral a golpes no talho do caráter.


Antonio Sávio

SOBRE DEUS




Da bigorna que com malho se perfila
No compasso que molda fúlgido
O aço que exausto se enquizila
Se refaz afilado outrora túrgido

É mister, supremo artista, perfeitíssimo
Fulgurante, de tez e ações benevolentes
Esperança em teus braços afabilíssimos
Hosana ao que tudo fez e faz preexcelente

Em caridade se teu nome se circunscreve
Em paciência se faz em teu prelúdio
Esse afago é ouvertures para quem te segue
Aos humildes tem a graça do interlúdio

Que em cantochões ecoem não o teu nome
Mas as ações já azeitadas em tua cruz
Que os joelhos se dobrem de cada homem
Que erga aos céus cada alma que conduz

Antonio Sávio.

sexta-feira, 3 de abril de 2020

Onipresente.

Deitado ao sol à fitar o firmamento
As nuvens desenham-se ao sabor
Da minha mente
Surge tua tez, nívea ao fundo róseo
Do fim de tarde a sangrar.

Teus poros, teus olhos, teu riso
É a arte tornada viva, harmonia,
Piceladas certas, és poesia
O verso, o compasso...certo, perfeito, conciso.

Deitado nos fins de tarde,
Tua presença, embora distante
Insiste em meu ser. Como não sei,
Não se prova o amor silente
Não se sabe da paixão ardente,
Mas sinto-te e isso basta-me,
Por mim nada mais saberei.

Foto: Céu Ardente - Renato Lourenço.