quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Boas festas...muito boas!

A face perolada das uvas
O orvalho na tez destes pêssegos
A rutilante gordura dos faisões
Tudo serve para celebrar
E denunciar o estágio faminto
Que arqueja nossa moral
Neste teatro de personagens burlescos.

Uma ode aos pântanos
E as câmaras abissais dos espíritos
Que varam os anos atravessando os séculos
Renascendo eternamente
Na sobrevivência moto-contínua
Dos uivos nas madrugadas dos próprios instintos.

As faces paroladas das uvas secam,
E os figos apodrecem na cal dos dias
Só a idéia pura e cristalina,
A bondade, o perdão permanece
Como edifícios imortais e indiferentes
Cegos para as futilidades
Mudos e surdos para o diálogo com os dias.

sábado, 12 de dezembro de 2009

Outras Visões

Ao longe, no dorso dos desertos onde vagam as idéias errantes
Está o sonho do ser, do homem, do delírio, da idéia
Ao longe, onde a retina não enxerga, onde a voz não lateja
Vibra um círio de vida, uma chama eterna de utopia.

Ao longe, nos sóis sangrentos dos fins de tarde
Estão meus sonhos fitando-me nos horizontes
A minha espera, a ver meus passos em sua direção
Ao ver os ventos sobre as folhas levitando

O orvalho se fazendo em prisma
Minhas retinas fitando-os desde longos anos
Meu passo largo, meus dedos magros
Meu copo cansado e permanente

Uma marcha solitária de passos
Que jamais desistem...
Ao longe, mesmo que incerto
Se que está tão presente,
Quanto às idéias que em minha mente existem

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Cor nas palavras.

No ocre que toma o verde da folha
O sal da lágrima que doura o grão de areia
O verde brilhante do beija-flor que a beija
Bem no cume do rosa,
Rota na cor de chumbo do asfalto
Que alto, outro chumbo do céu nublado
Me atira uma chuva torrencial
Fonte de prismas do tiro
Quase solar que vaza a gota d’água
Arco íris em pleno céu de março
Fuma o homem o maço do cigarro
Que negro deixa teu pulmão
Puro charme do trago do lábio carnudo
Da boca de batom carmim da moça
Que roçam em mim os olhos verdes claros
É claro que este olhar não é de festim.
Rubras minhas faces que da romã
Furtou a cor.

Imagem: Denise Cardoso

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Solo Incerto

Desconhecia o medo dos amores incertos
Hoje conheço o medo das percas
E os arranhões das saudades que marcaram minha face
Os medos ainda constrangem meus olhares
Que já não é uma lança que apunhalava
Teu coração

É por precaução, que hoje quero do amor
Só o amor sem aventuras, quero o solo
O passo certo dentro do teu coração.

Imagem: Victor Melo

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Pranto Calmo

Chora linda,
Chora calma e leve,
Como a libélula que levita sobre
As águas calmas do lago.
Porque todo mundo tem que ter
Este ombro amigo-eterno para
Aparar os prantos do mundo inteiro
Que se fazem em corredeiras
Abaixo das máscaras felizes
Infelizes somos todos nós
Nesse ar pós-moderno, que nos sufoca
Há tanto tempo.
Chora linda,
Chora que a água leve
Do teu pranto, lava este teu olhar
Sofrido e sacrossanto,
Nessa valsa que só dança você e eu.

Foto: Mafalda Reis