segunda-feira, 29 de setembro de 2008

LAMENTO


Além, muito além das fronteiras da alma
Sonho eu com este ar de liberde.
Levado pelo minuano e pelas maresias açoitadas
Por este mar de poesia nos fins de tarde.

Além, bem posterior a realidade
Faço eu fronteira entre as utopias
Pestanejo sobre este territótio do medo
Sobre este perigo que corrompe as almas...

Pelo visto, é disto que somos feito.
A sedução do sonho e o grilhão medonho do medo,
E a mania da densa mediocridade.

Pois muito além do próprio sonho, estou eu.
Aboiando com o berrante da poesia parte minha que se projeta,
E lamentando a que por medo ficou sentada vendo o fim da tarde.

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

MULHER "CONTEMPORÃNEA"



Anda mulher entre as sombras dos muros
Nas sombras dos vórtices, em vendavais
Anda mulher com alma em monturos
Sobre as sombras de homens boçais

Anda mulher com o ventre em fogo
Grávida de uma idéia que gera meus ais
Anda mulher, nasce de tí o novo
O novo que não haverei de olhar jamais

Anda mulher teus passos sem poesias
Deliras em mundos opacos aos cacos a bradar
Não pairam em teus ouvidos os sons dessas liras
Que inspira um tormento para dele sarar

Anda mulher por bússolas estranhas
E em tuas entranhas jaz perdidos olhares sobre o cais
Nadam e se afogam tuas façanhas
Sobre a verdade que em tua boca sempre jaz

Chora mulher, a lágrima trêmula em tua face
Escorre pelo seio que arfa sem fôlego, sem paz
Tremem teus nervos, teus ossos de aste
Para que finalmente caia pelos atos que faz.

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

DIVAGAR


Nas ruas de Turim, nas noites do Cairo,
Eu que, aprendí nas boemias argentinas
Uns tangos salietes como se diz em Recife,
Dancei aos pés da esfinge que, por sinal nem finge não gostar de mim...

Eu, que apontei o dedo na cara da lua até o infinito, que espremí aquelas espinhas de muito antes de vocês hoje...chamarem de crateras...

Gargalho ainda com a goela aberta para a brisa que carrega os pecados das portas dos meretrícios que herdei do inventário dos lisos que meu pai deixou-me...e ele disse: são todos vossos, e, bêbado, assinou com um graveto nas areias do antigo gesso, aqui mesmo no Crato.

Só eu que gritei teu nome secreto por tua própria voz,
Só eu que vejo as jóias, as "pratas" brilhantes em teus dentes menina...
Só eu que ponho minhas patas nestas nossas noites dementes?
Só eu que ando dormente apesar dessas dores infindas!

PASSOS



Nos maus caminhos que a chuva chora
Planto os meus passos sobre o chão molhado,
Sobre o cheiro do barro vermelho, do estalar dos galhos.
Em rumo incerto, fugir de dentro de mim...de dentro de mim...de dentro de mim...de dentro...

Andar esquivo mas saber o Norte,
Ouvir campinas, trinar canários.
Pular mil cercas, gozar cenários,
Apesar de o peito caminhar para morte...ca-mi-nhar!!!

E transpor fronteiras, fundir-se em rios
Perder-se em verdes brilhantes, encarar bicos, bigodes, novos semblantes.
E assim, depois de ser rio, vento e pássaro...

Voltar aos passos pelo caminho errante
Já não são risonhos os cânticos, já são tão cinzas os verdes,
Já foram mais sutis as matas...mata-me, tão cansada de mim, mata-me sem tiros de festim, mata-me sem tiros...sem tiros...
Leva-me o riacho manso, leva-me a correnteza forte.
E em cada rio vai um pedaço de mim,
Em cada sol ao por-se no Norte, ao por-se no Norte,
Vai um pedaço de mim, um pedaço de mim...