sexta-feira, 16 de novembro de 2012


terça-feira, 18 de setembro de 2012

Tão pouco

De tudo que é sentido, tão pouco é falado.
De tudo que sofrido, satisfeito...
Quase nada é dito na lágrima que cai
Pois, para cada uma delas há um turbilhão de silêncios,
Bem como a cada vez que teu riso escapa,
Teu olhar pousa as retinas sobre mim...
Também há a nota do riso vibrar no silêncio.

Pois nem tudo que é sentido de feliz
É possível ser expresso. É como o vento, o qual sentimos e não vemos.
Há nas paixões a violência do olhar, do lábio trêmulo do beijo, na ânsia do desejo algo de fugaz. Há no amor, tudo isso sob o compasso seguro da eternidade. A cada instante que teu riso entorna sobre mim, ecoa em toda eternidade.

Antonio Sávio

domingo, 5 de agosto de 2012

Quando o Quando é Eterno


Home
Meu tempo é quando os jasmins estão no passo
Mede-se de primavera em...em cada péta-la que
Se desgarra silente no campo.
O vero tempo é o que é eterno
Que a força (mãe do tempo) forja para a imortalidade.
Me tempo é o instante que se eterniza
Com a força dos brados que não cansam.
A ação do instante débil, que não tem o ímpeto de vencer as eras,
Nada mais é que o voo débil da libélula, que embora sedutora em sua graça,
És ínfima frente a calmaria secular de um carvalho.

Foto: paulinosn
Fonte: http://olhares.uol.com.br/

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

(D)escrever-se


Há no lábio rubro qualquer coisa que não deve ser dito
Deve ser meditado.
Há no olhar, alguns ares de sol a latejar
Qual dardos, setas enviadas por arcanjos.
No caminhar são passos de uma valsa distante
Tocada em cravo quase silente nas tardes sol no campo
E tudo isso é nada, tão só o possível a ser dito
Embora saibamos que o que aqui está escrito
É demasiado vulgar para expressar o que sois.
Há na palavra, qualquer coisa de inerme,
Pois pouco capta do que és, do brilho do riso
Do que vasa dos olhos, do que exala
Do quanto fala teu silêncio.

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Fernando Pessoa, a Era da Gnose, e o problema da modernidade

Escrito por Orlando Braga | 10 Julho 2012

A capacidade do homem comum e vulgar, em geral, de discernir o futuro mais próximo por intermédio da intuição de “probabilidades pesadas”, não existe no gnóstico devido a uma fé metastática que o possui e controla.
 
Ao estudar os textos em prosa publicados de Fernando Pessoa — porque eu não os li, apenas: estudei-os, literalmente —, cheguei à conclusão de que não concordo com a mundividência dele em mais de 50%, embora também reconheça que ele foi mudando substancialmente de opinião à medida que avançava na idade, e não posso deixar de lhe reconhecer muita originalidade e mesmo genialidade na forma como construiu o seus raciocínios, mesmo que, a espaços, ideologicamente opostos entre si.
E mesmo com a formação do partido de Hitler na década de 1920, e com a sua ascensão ao poder a partir do início da década de 1930, Fernando Pessoa — que faleceu em 1935 — não conseguiu prever ou intuir o horror da II Guerra Mundial que teve o seu início em 1939 [apenas quatro anos após a sua morte]. E mais: Fernando Pessoa, que criticou duramente D. Manuel I pela expulsão dos judeus, e sendo ele próprio descendente de judeus, sempre foi um germanófilo de boa cepa, defendendo por exemplo a posição dos alemães na I Guerra Mundial. O que diria Fernando Pessoa dos seus ilustres alemães se pudesse ter assistido ao horror do holocausto nazi?

O caso de Fernando Pessoa e a sua relação próxima com os alemães é sintomático da dificuldade de alguém, vivendo as circunstâncias do seu presente, poder prever sequer o futuro mais imediato. Karl Popper fala-nos nas “possibilidades pesadas” de acontecimentos futuros, comparando-as com a probabilidade quase certa de nos sair um determinado número em um jogo de dados viciado: se o peso de um dos lados dos dados estiver viciado com chumbo, a “probabilidade pesada” é a que o número viciado nos calhe sistematicamente em sorte.
Mas Fernando Pessoa não conseguiu intuir qualquer “probabilidade pesada” em relação à capacidade dos seus admiráveis alemães em exterminar os seus queridos judeus: morreu convencido de que o partido nazi alemão seria apenas uma insignificante corruptela germânica de Mussolini. E a razão pela qual Fernando Pessoa não conseguiu intuir um futuro tão próximo do seu presente, prende-se com a sua fé metastática gnóstica — a Gnose. Fernando Pessoa era um gnóstico.
Um gnóstico não é alguém que não tenha um senso firme da realidade. Pelo contrário, no caso de Pessoa, ele tinha um conhecimento imenso da História, e fazia análises políticas do seu presente muito bem fundamentadas e com um raro sentido crítico. O problema de Fernando Pessoa não era o passado e o presente, que ele conhecia muito bem: o problema dele era o futuro e a sua obsessão com o futuro.
E é com o futuro que os gnósticos se enredam e se vêem com “os burros na água”, porque perderam o sentido do senso-comum do homem vulgar. A capacidade do homem comum e vulgar, em geral, de discernir o futuro mais próximo por intermédio da intuição de “probabilidades pesadas”, não existe no gnóstico devido a uma fé metastática que o possui e controla.
Com o advento da revolução francesa e do Positivismo, entramos todos na Era da Gnose, o tempo de predomino cultural e social dos novos gnósticos, em que se misturou a Gnose da antiguidade tardia, com a nova Gnose cientificista. É assim, por exemplo, que Fernando Pessoa consegue ser um acérrimo defensor da ciência positivista e, simultaneamente, anunciar o seu místico apoio à maçonaria, por um lado, e por outro lado defender a veracidade absoluta das profecias do Bandarra e de Nostradamus — para além de se dizer, ele próprio, membro da Ordem dos Templários que, como sabemos, foi o esteio medieval da maçonaria operativa.
Portanto, a Gnose é no presente, como foi no passado, a confirmação absoluta do poder que Prometeu concedeu ao Homem.
No plano da ciência moderna, a Gnose passa pela afirmação da validade do cientismo. E na tipologia da religião moderna, a Gnose passa, por um lado, pela preponderância quase absoluta da imanência [seja nas religiões políticas, como por exemplo o marxismo, seja na imanência da Cabala ou do ocultismo, teosófico ou outro], herdada da tradição gnóstica antiga ou adotada pelos Templários; e, por outro lado, passa pela validação de uma visão maniqueísta do mundo — maniqueísmo entendido no sentido da religião de Mani, em que o Bem e o Mal são duas forças equivalentes — que adoptou de Heraclito a complementaridade dos opostos. Tudo isto se pode verificar, com uma cristalina clareza, nos textos em prosa de Fernando Pessoa.
A partir do momento em que o gnóstico moderno — seja ele cientista ou um místico imanente [o que em termos da Gnose vai dar no mesmo] — encara o futuro a partir de uma perspectiva prometeica — segundo o conceito de Protágoras do “homem como medida de todas as coisas” — e imanente — na medida em que prepondera nele o determinismo absoluto em relação à realidade, ou o absolutismo tirânico do Destino segundo Fernando Pessoa —, a sua capacidade natural de intuir o futuro próximo das “probabilidades pesadas” fica altamente comprometida. E esta é uma das razões, por exemplo, por que a maçonaria [imanência] tem falhado rotundamente em quase todas as “apostas de futuro” que fez no século XX.
O século XX pode ser classificado como a Era em que as apostas dos gnósticos modernos no futuro redundaram em hecatombes humanitárias indizíveis. Tentando “forçar” o futuro em determinado sentido, os eventos entraram em retroacção, e a imprevisibilidade que é característica do futuro traiu os sonhos e as utopias traduzidos pela fé metastática dos novos gnósticos, com consequências catastróficas para a humanidade.
Corolário: o problema do nosso tempo, e da nossa crise, não é só de 2008: o problema vem de trás, dos Idos do século XVII. E enquanto não tivermos todos, embora obviamente uns mais do que outros, consciência do problema complexo que nos trouxe a Nova Gnose, não iremos sair do delírio interpretativo colectivo que obnubila o espírito do Homem moderno.


Orlando Braga
edita o blog Espectivas.

sábado, 7 de julho de 2012

O sopro do verbo.

O sopro de Deus que caiu sobre a terra
Em forma de verbo, de vero, de verdade
Caiu sobre ti qual arte,
Cinzel sobre o mármore cortado e polido.

Fizeste portanto a arte em vida em ti personalizada,
"Zatema", minha busca existencial
Face de ângelus, carne em êxtase sincopada
O trêmulo do gozo pecaminoso
Contra o giro da alma sedenta por luz.

Fizeste viva em dedos rafaelescos,
Em risos arquitetônicos,
Em carnes e músculos divinos e perecíveis,
Em cútis trigueira e olhos em fogo
E face de pluma que leve (quase metafísica) levita,
Espetáculo para quem antes arrumou o próprio palco
Dentro de si.