terça-feira, 16 de dezembro de 2008

ÂNSIA

Na mão fechada uma rosa e no peito as dores do mundo,
No olho enfurecido, o ardor de um vulcão
A mente fixa da idéia, vento na vela,
Os passos firmes com perfeita direção

Um sonho, com a boca cheia de ar sopra as velas
E aquela idéia de mudar o mundo, fixa na mente
Parte do coração
Ação proposta de mudar, de pintar uma nova tela
De derramar um bálsamo sobre o mundo malsão

Sonho e ação dada a necessidade
De mudar, bombear o mundo com próprio coração
De soprar a bruma que oculta a verdade

De ver o que arde no âmago deste vulcão
De ler esse diário, uma lágrima de caridade
Sonho de soprar as velas com a força de um tufão.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

PESARES

Apesar de tudo, e dos sentidos que aguçamos
Como o limar de uma pedra sem fim
Permance o opaco sobre os olhos
E uma nuvem intensa sobre a paisagem

Os elefantes, pelo delírio vôam
E as borboletas diferente de antes
Rastejam a vaidade de suas asas sobre a gleba
Nada mudou, mas tudo enfim não há de permanecer o mesmo

Não ao mesmo sol a vazar sobre as arestas
Das frestas das fendas de minha porta
Corta então o tédio arenoso sobre mim
Pois a vista perdida na paisagem,

A catar as migalhas da realidade
Que me encaparam entre os dedos
E agora resta-me o medo,
Dos segredos deste fardo, que arde sobre mim

EIS TUDO DE MIM

Nas rodas desta engrenagem que mastiga meus sonhos
No solo deste palco, num ato interminável
Estou a rever a mesma cena burlesca e irascível
Onde me despertam os brados mais medonhos

Quem sou nesta imensa teia de reações bioquímico-sociais?
Sou a sombra misteriosa dentro da bruma
Sou o estalo das ondas sobre as rochas, sou a espupa
Sou os arlequins funestos dos carnavais

Sou o brilho ocre no dente do velho
Sou o escavelho fomento entre as carnes
Sou o todo, o meio, enfim, sou as partes
Que ardem no fogo de vida ou morte deste prélio

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

IN NATURA

Assim como os bites dilacerando o tempo
A correr na impulso frenético da fibra ótica...
Assim também explodem os vermelhos das rosas
Na interminável complexidade bioquímica nos campos

Sabedoria eterna que o homem que por mais que se diga mister, ainda muito ignora.
Nem as tintas de tua tela interminável
Assemelharão as sutilezas das penas, das luzes,
Das tardes, dos brilhos dos olhos...

Erguerá mil ve-las, mas tua invenção, teu escaler,
Tua nau está sujeita ao açoite dos ventos
Ventos imprevisíveis por sinal.

Falará mil linguas, mas não explicará a harmonia
Eterna que há no âmago da própria existência de cada ser vivente.
Desiste então deste colóquio cansativo,
Deita as pálpebras um instante humildemente e sente.

Ergue-se homem, com teu brado sobre a natureza,
Mas de tempo em tempos saberás que é apenas peça,
Parte ínfima das entranhas desta fortaleza.

domingo, 30 de novembro de 2008

POEMINHA

Novos dias virão apesar da chuva intensa que agora cai
Apesar do mangue que agora estamos,
Da cegueira quase eterna,
Apensar de tudo parecer tão fútil
E as lágrimas sejam tão correntes,
Correntes vão se desatar como o desabrochar das rosas
Sóis tocarão nossas face
E em face disto tudo ei de ganhar um escudo chamado poesia

sábado, 29 de novembro de 2008

VISÕES

Ao longo do jardim apenas o olhar
Sobre as flores e ao fundo a mata
O lance do olhar sobre o vôo da borboleta a dançar no ar
Chapada ameaçar o céu, guerra eterna no fim de tarde
Onde o céu ferido sagra rubro-róseo,
Pavor das fadas e gozo dos anjos caídos
No bojo dos fins de tarde, aqui onde chamamos terra
Deu hora de sangue, deu hora cinza, deu hora de sono
Descendo nova cortina, novos atores num palco negro
Onde brada um luzir de homens e mulheres
Que uma vez na terra se fizeram sangrar,
Para que suas sendas de luz nos pudessem chegar
Ao longo do céu, este outro jardim, apenas o olhar
O seio que teme o escuro que anseia o novo
Dança na roda de desejos.
Dúvida cruel:Viver na eternidade, eu floresta imensa dentro de mim
Ou a rosa singular, vivendo para o povo.
Ao longo do céu, guerra eterna no fim de tarde
Arde uma batalha de rosas, pouso do vôo de abelhas
E em mim as centelhas das cores em minha retina
E as sensações que em meu peito ardem


Foto: Beatrix Krüger

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

DESEJOS EM SILÊNCIO


Te quero...te quero com o mesmo tempo que o egito teve para crescer,
Que os carcófagos tiveram para dormir...
Te quero com a mesma força do sol,
Com a mesma calma das águas do lago, do canto cisne, do passo do leopardo.
Te quero com o mesmo tempo de mil luas a descer pelas montanhas,
Com o mesmo balanço das ondas, do sopro do vento, da insistência imóvel das rochas.
Te quero tranquilo, como o balão da tingir o céu turmalina,
Eterno como os segredos deste mundo, imortal como tua própria alma.

FOI A NOITE



As ruas pela manhã ainda têm o cheiro do sangue
Escorrido pela madrugada.
À noite, antes bela e romântica, torna-se fulgaz, assim como as vidas que por ela caminham, somem, como a água que escorre pelo ralo e some no submundo.
O cheiro de morte, de sexo, de drogas...
As noites de hoje, é isto que inspira ou atemoriza os novos poetas.
As liras tocam em outras claves,
As danças em outros passos,
As pinturas noutras cores,
Onde reflete o céu cor de chumbo
E o gris da lua com seu olho medonho a nos observar.

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

CONFISSÕES


Ainda cá, no mesmo local de sempre
Vivo com meu olhar de cão perdigueiro.
Não a caçar perdizes, mas na mesma ânsia do cão faminto,
Caço sobre o mundo, as nuances dos finais de tardes.
Ainda caço o negror da pupila reluzente a me olhar pelo canto do olho,
Assim como ainda insisto nas buscas das pele brancas e trigueiras ao longo das madrugadas.
Persigo após o pó das eras, a última gota do cuba libre,
Que me solta os instintos mais primitivos...
Com a lupa sobre o mundo meu anjo, rastejo a língua como uma cobra,
A perseguir os sabores, o olfato os cheiros e a retina cansada,
As matizes que pousam sobre o meu opaco olhar.
E cá estou sobre o mundo, sendo eu ainda o mesmo:
Esta forja de pecados e mesma labareda de desejos.
Foto: Renato Luiz Ferreira

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

ORAÇÃO


Eu, quando muito, rezo de vez em quando
Rezo pelos prados, pelos rios, pelos mudos
Rezo pelos cegos, bêbados, rezo pouco
Mas quando rezo eu sempre sangro

Sangro pelo olhar, pelos poros, quiçá pela alma
Mas nada do que falo é atendido
Palavras somem no ar, como um balão desprendido
E assim somem as esperanças, perco a calma

Perde-se a visão, o olfato, tudo em fim
Perde-se o fio que prende o corpo a alma
O fluido das veias, a força motriz da vida
E o espírito assiste de longe o corpo que a pouco tinha
Como as uvas fermentando o chão, desprendidas da vinha


quarta-feira, 19 de novembro de 2008

TEMPO PARA MAIS UM PECADO



Sempre tenho tempo para mais um pecado
Sempre tenho muito tempo para contar cada brisa
Sempre com os pulsos firmes para levantar as saias
E se mesmo assim as fadas não me quiserem
Não há como não me deixar voar


Mesmo que não haja mais o galope
Haverão meus passos sobre a estrada
Mesmo que os anjos nos abandonem
Resta-me a minha própria luz
E mesmo que haja a rejeição das fadas
Ainda há o lupanar do céu
E as estrelas como cada meretriz que me seduz

AINDA ASSIM



A espera do crepúsculo, do alto da torre
A sangria imensa dos faróis vermelhos
A turba gigantesca a buzinar
A bruma cinzenta sobre os carros
E daqui de cima eu a tragar o rum
E lançar no ar a fumaça do cigarro

O traseunte cego pelo delírio do ter que chegar
Cego e não vê as vidas que por ele passam
Cego ao por do sol, a água como prisma
Cego ao lento e leve vôo do pássaro


O Condutor cego pelos cristais da chuva
Cego pela ira em ter que esperar
E mesmo parado ninguém espera
E ainda assim esperam ver o mundo mudar...
E ainda assim esperam ver o mundo mudar...
Foto: Mariis

sábado, 15 de novembro de 2008

SONO



Dorme no ventre dos lírios
Nos ventos da noite que envergam os trigais
Dorme sob as vozes dos martírios
Ou com a benção dos orixás

Dorme com o mistério do Egito
Com o seio em conflito
Com a voz deste meu grito
Que tomam as formas dos vendavais

Dorme sob as carícias das brumas
Sob os sons destas ondas
Que teus pés vem beijar

Dorme com as sismas das matas
Sob o calor destas asas
Sob o vento na fragatas que a levam ao mar


Foto: Felipe Morgado

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

DELÍRICO CEARÁ


O que fazem, os dias passados em minhalma
Sem ter ardido o sol em minha pele,
Sem os vapores da terra em meu corpo,
Sem o dardejar de ventos vindos das serras
Rebatidos pelos seios dos chapadões que motivam meus sonhos,
Para além do horizonte que desenha-se sobre meus olhos?
O que fazer sem os dias, sem as tardes que possa levitar como as folhas de outono?
O que fazer sem o hálito do mar, sem as rendas que se dipersam na praia e que muitos as chamam de ondas?
São nesses passos lentos que percorro meu caminho quando o sol põe-se a sangrar no final da tarde, tingindo a dor do final do dia e talvez lá também sangre minhas angústias e a saudade que tenho de tí...
Continuo a galopar entre os rios ao passo que o luar espia-me com um só olho...
No balanço das árvores pulso em cada folha que nasce, e em cada raiz a correr os sais necessários para o bradar da mesma.
O bradar em silêncio que cada árvore faz no meio dos vendavais, envergando seus galhos ao sabor dos ventos como quem gesticula.
Assim prossigo em monólogo com as conchas e com tudo que possua uma olhar que vaze harmonia, assim como os teus que agora em repouso, em algum lugar deve sonhar...
Sonhar com as notas dispersas de alguma lira e o com voz metálica de algum poeta que possa descrever as paisagens verdes aos seus olhos cerrados pelo sono e pelo negror da madrugada.
Ao longo desses dias em que sonhas, percorro as trilhas que o poeta a descreve e com sorte talvez possa eu aparecer nas mesmas.
Quem sabe no violento vermelho, róseo, laranja do tarde, no sabor das liras ou vibrar dos versos que um dia fiz a tí.

sábado, 8 de novembro de 2008

VINHA SUTIL

Vinha de livros apertados nos seios
Vinha de passos tão curtos, com tão grande enleio
Vinha no compasso dos ventos, de brisas e minuanos
Vinha leve, líquida, aliás, vapor!
Era o próprio ar. Não era a pena, nem a escrita
Era o nascer na mente da própria poesia
Quem era? Era ela ora...ela era a própria poesia
Tinha os olhos de graúna, as vezes de abacate.
Tinha os passos ligeiros na dança
Tinha em seus cabelos tranças por toda parte
Tinha, tinha...tinha tanta coisa que esquecí de mim
Esquecí de mim...esquecí...

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Por mais que o mundo faça um esforço medonho para nos por mordaças, simplesmente algumas pessoas de talento não resistem e grunem mesmo com o pano enfiado na goela. Outros mais livres ainda não são postos com grilhões, mordaças, algemas ou qualquer coisa que o condicione. São os raros espíritos livres que no meio de tantos versos que lemos hoje em dia realmente podemos dizê-los poetas. Abaixo um dos poemas do amigo Lupeu que está entre os poucos poetas verdadeiros que conheço.


O celular me liga no mundo e sei, continuo desligado. detesto isso de ser achado a qualquer hora. Gostava quando os telefones viviam presos. Iguais a cachorros ferozes. Presos em suas cordinhas enroladinhas. A gente via eles lá, nos cantos das paredes, cobertos com pequenas toalhas de crochê, ou as vezes, presos também com pequenos cadeados. Um dia eles se soltaram. Pularam das paredes para os cintos. Depois para as bolsas, os bolsos. Um dia, vão andar sozinhos. Falar entre si. Planejar a destruição de todos os humanos.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

APESAR DE TUDO


Mesmo com o fel que homem moderno
Deixa escorrer pelos cantos da boca
Ainda ecoam o trinar dos canários, n'algum lugar
Lugar, no planeta chamado poesia

Mesmo ao som das metralhas
Batalham nos céus o estalar de rimas
Sangram as papoulas nos prados
E mesmo ao corte do machado
Nascem nos grãos bombardeado pelos pássaros
A esperança em cada semente expelida
Esperança em forma de poesia.

Ainda assim, mesmo com o peso dos grilhões
Atados em meus pés...não seguram-me a noite
Ao sabor dos ventos os sonhos voam...
Desata o espírito e fica o corpo que jaz na laje fria

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

ROSA DOS VENTOS, TEMPOS E ESPAÇOS


Se soubesse quem és, perguntaria
O que de mim seria, e qual sereia tu seria?
Saara meia noite dentro de mim
O que sou eu neste pesadelo perdido com fome
Olhando para tí nos hotéis de Dubai

Arábia, quem te diria, em teus manuscritos
Que nada me diz, hoje me diria
Que dança no céu os faraós com os califas
Com a rosa dos ventos nos cabelos ao sons da mansa brisa
Para o sorrir desta sereia que esta noite possuiria

Que horas são?...eu saberia de Dalí não derretesse
O tempo, mas assim me perderia
E não seria quem sou hoje, sem tempo nem espaço
Onipresente na tentativa diária de poesia

Me guia então mulher, rosa dos ventos, tempos e espaços...vazios

VOAR POETA



Sonhava o insano voar pelo universo
Sonhava com passos bem telúricos
O poeta louco, casto, sensual, boêmio
Sonhava que a pena na mão era o único refúgio

Anda o poeta por veredas infindas
Perdia-se em umbrais, em prados, porfia uma vil sentença
Pagando pelos sonhos que sonha ainda...
Vai o poeta, some, que cá está tua presença,
Que tua pena brada pela voz de um tenor que jamais se finda

Sonhava o poeta ver grilhões partidos
Mas o preço do voar é caro conforme o risco
Lá no céu voar de encontro a um corisco
É diferente de um pássaro que canta ferido

Voar contra as próprias entranhas é poesia
É filosofia romper e poetizar
Proeza, vós acompanha o vate nesta noite fria
Acompanha os passos deste caminhar

sábado, 25 de outubro de 2008

XADREZ



Olhos lançados nos meus, partida aberta neste xadrez
Olhos, recíprocos olhares nesta teia de desejos
Bispos à frente, à frente cavalos
Desejo e cálculo, um de cada vez

Tez de menina, ar de egípcia, arte e mistério
Guerra no palco, centro em jogo
Império em crise.
Não há quem já visse este teu cor(e)ação
Robro em desejo, ensejo de vidas e mortes
No bojo de cada relação.

À frente as bases, enlaçam-se as torres
E delas enfim...do alto apanho teu coração.

ABIDORAL JAMACARU E O "BÁRBARA" - O MENESTREL DO CARIRI APRESENTA SEU NOVO TRABALHO MUSICAL.


A notícia não poderia ser melhor, chegou o tão aguardado CD daquele que é um dos maiores símbolos da musicalidade Cariri/Brasil.
“BARBARA”, assim se intitula o mais novo trabalho de Abidoral Jamacaru, que presta justa homenagem a heroína Dona Barbara de Alencar. Neste terceiro trabalho Abidoral mantém-se coerente aos seus princípios musicais. Contextualização literária atualizada, arranjos trabalhados sob a sua supervisão, sempre com propósitos inovadores! Novos parceiros, novas roupagens nas músicas de outros autores.



“ Abidoral é o mesmo, renovado, como o sonho que ousou iniciar ainda imberbe e não deixou de sonhar homem feito com a prata da barba e do cabelo, seu sonho de Mateus e nos acordar com seu canto brincante”. Trechos da apresentação que abre o encarte sob as palavras do consagrado cantor/compositor: Chico César.

Ficha técnica:
- Gravado em padrão digital no estúdio: IBBERT-SOM
- Produção artística e executiva: Abidoral Jamacaru
- Direção musical: Lifanco
- Assistente de produção: José Flávio Vieira
- Projeto gráfico: Reginaldo Farias
- Foto contracapa: Pachelly Jamacaru
Mixagem e masterização: Abidoral, Lifanco e Iberteson Nobre

Como adquirir:
Breve nas lojas da cidade ou em contato com o autor:
Fone: 8811. 0195
Endereço de Abidoral: Rua José carvalho 247,
Centro Crato-Ce
63100.000

Foto: Pachelly J.
Postado por Pachelly Jamacaru
Fonte:www.cariricult.blogspot.com

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Dante inspira obra de artista


Personagens do livro ”A Divina Comédia” são retratados e expostos durante a exposição “O Inferno de Dante”, disponível para visitas até 31 de outubro, no Crato (Foto: Elizângela Santos)

A exposição já acontece desde o último dia 7. É possível perceber que o público está ficando admirado com as obras do artista Francisco dos Santos
´A Divina Comédia´, de Dante Alighieri, tem personagens em argila, exposto na Região do Cariri até o dia 31

Juazeiro do Norte. Formas em padrões clássicos, inspiradas na obra de Dante Alighieri, “A Divina Comédia”. O constante interesse de buscar as formas exatas da anatomia humana, por meio da escultura em argila, trouxe um trabalho elaborado pelo escultor caririense, de Juazeiro do Norte, Francisco do Santos. Os detalhes de cada personagem arrancam suspiros dos que vão à exposição “O Inferno de Dante”, aberta para visitação na Galeria do Sesc Crato, até o próximo dia 31 de outubro.



O artista decidiu beber na fonte. A trilogia do autor clássico envolve o Inferno, o Purgatório e o Paraíso, na Divina Comédia. E foi na maneira como são descritos os personagens que o estudo do escultor foi mais a fundo. A forma minuciosa e expressiva dos seus personagens, principalmente no Inferno, trouxe o aperfeiçoamento também de Francisco dos Santos, um autodidata que hoje vem buscando cada vez mais se especializar no que faz. Ele é estudante do curso de Artes Visuais da Universidade Regional do Cariri (Urca).

Material perfeito

Desde 1996, quando realizou o seu primeiro curso na Associação dos Amigos da Arte (Amar), com a escultura em argila, que procurou, antes de tudo, ter o material perfeito para elaborar as formas. A pesquisa veio pela argila que não desse trabalho na hora da secagem, ou mesmo quando levada para o forno. Foi um tempo para ter o resultado ideal. Entre a argila que ele chama de magra, com menos elasticidade, e a gorda, descobriu o meio termo e uniu as duas. Chegou na forma ideal, a liga perfeita, para desenvolver o talento. A dedicação ao artista e sua especialidade veio depois de ter a matéria-prima.

O foco de atuação vem junto com o estudo da anatomia. Os músculos, proporções do corpo humano, que seguem a medida das sete cabeças, dentro dos padrões das esculturas clássicas, estão contidos em seu trabalho. Além de escultor, Francisco dos Santos também desenha. Para ele, esse trabalho auxilia bastante no processo de confecção das personagens. Outra inspiração, dentro dessa forma de criar as imagens, foi por intermédio das gravuras de Gustave Doré.

Especialização

Mas foi num material acessível na região, que o escultor decidiu se especializar, por ter esse material com maior facilidade. “Posso também trabalhar maior riqueza de detalhes”, diz. As vantagens de transformar esse trabalho em cerâmica têm um sentido bem mais proveitoso. Para o escultor Francisco, a própria arqueologia confere isso, por meio dos milhares de anos de materiais que são estudados por intermédio das ferramentas provenientes de utensílios de peças desse tipo.

O trabalho simples e com fortes detalhes traz um pouco da história do renascimento para uma região onde os artistas, em sua maioria, buscam o regional para se inspirar. Isso, de forma nenhuma, incomoda o artista. “A idéia é também provar que nordestino pode trabalhar os padrões clássicos e podemos ficar apenas presos aos padrões regionais”, explica.

Francisco trabalha em seu ateliê Shanadú, na cidade de Juazeiro do Norte, onde ministra aulas de desenho, pintura, escultura, além de realizar, também, oficinas para diversas instituições do Estado, como o Serviço Social do Comércio (Sesc), Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac), Centro Cultural do Banco do Brasil (CCBNB) e também Sociedade de Apoio às Famílias Carentes (Soafamc).

Essa exposição, com apenas 12 peças, vem como um resultado tridimensional da realidade exposta, de forma nua e crua, pelo autor Dante Alighieri. O prazo, conforme o artista, foi de 45 dias para desenvolver cada personagem retratado no livro, com as formas sem fugir ao imaginário do leitor. O tempo maior é dedicado ao estudo e depois mãos à obra.

Cada trabalho tem uma história para contar. A expressão validada na percepção do artista. Um deles está em destaque na exposição. É denominado ´Depressão´. Caracteriza todas as pessoas que estão no limbo. Na ante-sala do inferno. E é nesse lugar onde estão todos aqueles que fizeram de tudo para não ficar no inferno. São o meio termo e também não chegaram ao céu. Eles vieram antes do cristianismo. Outro personagem conhecido, Caronte, o barqueiro que atravessava as almas do rio do inferno, também se encontra na exposição. Também tem Maomé, com suas vísceras expostas. O interessante é que a admiração da obra pelos visitantes da exposição, no Sesc, em Crato, desde o último dia 7, faz com que as pessoas se identifiquem com os personagens. Isso demonstra o reconhecimento do público pela busca da forma humana.

Mais informações:
Exposição ´O Inferno de Dante´
07 a 31 de outubro (8h às 20h)
Galeria do Sesc Crato
Atelier Escola Shanadu
(88) 3512.8103 / 8804.7596

Fonte: http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=580175

domingo, 19 de outubro de 2008

HOMEM MODERNO


Como ousas tu com tuas garras sem brio
Homem moderno afrontar-me com as chagas que tem no seio
Com tu'alma feroz, mortal, de olhar sombrio
Fazer ferir um olhar que só escapa enleio

Como ousas tu declarar fortuna
Nessas gargalhadas de dentes ocres e dourados
Há ouro em tua boca mas ela não vale coisa alguma
Assim como não valem as notas do teu brado

Eriçado de raciocínios bestuntos
Ousas falar-me de infinitos luxos que o dinheiro compra
Ouro, jóias, carros, embrosias, tudo...
Tudo que não preciso para deixar minhalma tonta

Ouro que torna-se ridículo perante minhas estrelas
Prata que não reluz a tez nem um olhar singelo
Tais ambrosias não mais valem que minhas centelhas
Assim como as mesmas me têm o essência do bem e do belo

Homem moderno não ergue pois tuas venturas
Sou poeta:crio e ergo sóis, mares, brumas
Perante o báratro sou a porta


Imagem: Óleo sobre tela de Eve. Tútulo: Angústia
Fonte:http://eveartes.blogspot.com/2008_02_01_archive.html

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

TACITURNO


Nada há mais que nestes dias que possa eu pensar
Nada na brisa que leva, este silêncio a nenhum lugar
Nada no movimento intenso dos carros, nos gestos nobres e bravos
Nada além do velho hábito de me cansar

Cansa o prelúdio, cessou o adágio
nem vestígios das gotas sonoras de um pianíssimo...
Nada nos versos vorazes dos jovens,
Que movem este tempo rapidíssimo.

Estacionam as águas, congelam-se as poeiras no ar
Emudecem as notas que antes estavam a bradar
Agrilhoam-se os passos da dança...
A agora cantam e dançam as mazelas em forte brado sem cessar

Fotografia: Luís Gonzaga Batista
Endereço: http://olhares.aeiou.pt/sem_titulo/foto2085412.html

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

CISMAS


Nas cismas do homem, como quem mexe com gravetos nas cinzas de uma recente fogueira.
Malina alí o poeta. Nas gavetas do ser, nos porões da alma está sua instância...
O doce das rimas, os brilhos dos vocábulos são meros floreios quando frente aos pântanos do espírito.
Defronta então nesta caminhada seus medos, seus segredos e dores, como os canos enterrados servindo como veias da cidade.

Sopra a poeira dos séculos mudos, como os vendavais sopraram os ponteiros dos loucos relógios que corriam feito as pás dos moinhos nas paisagens da Holanda.

Faz de teu verso, algo além de um cântico, mas sim uma oração onde expurga os pecados.
E eleva-nos aos degraus utópicos da perfeição

Desfaz-se desta máscara de cera. Pois a poesia é isso: dor em segredo, luz sobre as frestas, inferno e talvez paraíso.

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

CANSADO


Cansado. Vinte e poucos anos e cansado
De duas guerras que não viví, mas que tenho os membros alheios mutilados em minhas refeições...

Cansado dos anos de câncer que sobrevivi bravamente chorando a dor alheia

Cansado da luz de mercúrio sangrando pelos postes do subúrbio

Vidrado do salto do super-herói na TV, do suicida tentando salvar-se, do homem no prédio em chamas...

Vidrado na beleza asnática e vulgar da menina branca que passa
Cansado daquele olhar que me tortura e me devassa

Cansado das navalhas nas carnes, pulsos desistentes...
Cansado dos vultos de esperança que latejam em minha mente.

Cansado dos meus séculos perdidos no Egito,
E por meu grito não ser ouvido nunca mais
Cansado das torturas nas almas dos aflitos
E eu aflito, indiferente, são e doente...tanto faz.

terça-feira, 7 de outubro de 2008

De...lírios


Vejo-a pelo prado, dama dos ventos e dos vendavais
Vens a colorir as tulipas de vermelho, a dourar os trigos
Vens com o bálsamos dos meus ais
E dar-me em teu peito amoroso abrigo

Vens nos nacos de nuvens, nas manchas violáceas do entardecer
Vens na bruma da serra, nos mistérios da noite
Nos delírios do açoite
Que apunhala teu corpo ao meu em gozo e prazer

Ergue teu ser, teu brado, tua lira
E assim no meio das trevas que o tédio arrasta
Você no meio da noite resgata
Este poeta que agora inspira.

domingo, 5 de outubro de 2008

Hay Kay


A solução para essas almas perdidas
A andar por uma noite eterna, sem a luz do dia.
É cegá-las de rum
E embriagá-las de poesia.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

ONDE ESTÁS?


Onde está você, entre as pessoas da rua
Onde está você no meio dos anjos, nos risos do pecado
Onde porventura, está tua aventura
Que possa deixa-la em paz, se assegurar

Onde está no meio nos carros,
No meio dos gritos de guerra,
No meio das trevas dos homens mais bravos.
Onde estás no meio da idéia primeva

Onde andas, onde tropeças
Que ruas, passarelas, que guetos
Vão te pregar mil peças
Para aprender tudo com dor, na dor em segredo

Onde tua lágrima cai?
Por quem tu perde as noites
Por quem se põem a pensar
Enquanto esse vil poeta cala, ao passo que recebe os açoites.

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

LAMENTO


Além, muito além das fronteiras da alma
Sonho eu com este ar de liberde.
Levado pelo minuano e pelas maresias açoitadas
Por este mar de poesia nos fins de tarde.

Além, bem posterior a realidade
Faço eu fronteira entre as utopias
Pestanejo sobre este territótio do medo
Sobre este perigo que corrompe as almas...

Pelo visto, é disto que somos feito.
A sedução do sonho e o grilhão medonho do medo,
E a mania da densa mediocridade.

Pois muito além do próprio sonho, estou eu.
Aboiando com o berrante da poesia parte minha que se projeta,
E lamentando a que por medo ficou sentada vendo o fim da tarde.

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

MULHER "CONTEMPORÃNEA"



Anda mulher entre as sombras dos muros
Nas sombras dos vórtices, em vendavais
Anda mulher com alma em monturos
Sobre as sombras de homens boçais

Anda mulher com o ventre em fogo
Grávida de uma idéia que gera meus ais
Anda mulher, nasce de tí o novo
O novo que não haverei de olhar jamais

Anda mulher teus passos sem poesias
Deliras em mundos opacos aos cacos a bradar
Não pairam em teus ouvidos os sons dessas liras
Que inspira um tormento para dele sarar

Anda mulher por bússolas estranhas
E em tuas entranhas jaz perdidos olhares sobre o cais
Nadam e se afogam tuas façanhas
Sobre a verdade que em tua boca sempre jaz

Chora mulher, a lágrima trêmula em tua face
Escorre pelo seio que arfa sem fôlego, sem paz
Tremem teus nervos, teus ossos de aste
Para que finalmente caia pelos atos que faz.

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

DIVAGAR


Nas ruas de Turim, nas noites do Cairo,
Eu que, aprendí nas boemias argentinas
Uns tangos salietes como se diz em Recife,
Dancei aos pés da esfinge que, por sinal nem finge não gostar de mim...

Eu, que apontei o dedo na cara da lua até o infinito, que espremí aquelas espinhas de muito antes de vocês hoje...chamarem de crateras...

Gargalho ainda com a goela aberta para a brisa que carrega os pecados das portas dos meretrícios que herdei do inventário dos lisos que meu pai deixou-me...e ele disse: são todos vossos, e, bêbado, assinou com um graveto nas areias do antigo gesso, aqui mesmo no Crato.

Só eu que gritei teu nome secreto por tua própria voz,
Só eu que vejo as jóias, as "pratas" brilhantes em teus dentes menina...
Só eu que ponho minhas patas nestas nossas noites dementes?
Só eu que ando dormente apesar dessas dores infindas!

PASSOS



Nos maus caminhos que a chuva chora
Planto os meus passos sobre o chão molhado,
Sobre o cheiro do barro vermelho, do estalar dos galhos.
Em rumo incerto, fugir de dentro de mim...de dentro de mim...de dentro de mim...de dentro...

Andar esquivo mas saber o Norte,
Ouvir campinas, trinar canários.
Pular mil cercas, gozar cenários,
Apesar de o peito caminhar para morte...ca-mi-nhar!!!

E transpor fronteiras, fundir-se em rios
Perder-se em verdes brilhantes, encarar bicos, bigodes, novos semblantes.
E assim, depois de ser rio, vento e pássaro...

Voltar aos passos pelo caminho errante
Já não são risonhos os cânticos, já são tão cinzas os verdes,
Já foram mais sutis as matas...mata-me, tão cansada de mim, mata-me sem tiros de festim, mata-me sem tiros...sem tiros...
Leva-me o riacho manso, leva-me a correnteza forte.
E em cada rio vai um pedaço de mim,
Em cada sol ao por-se no Norte, ao por-se no Norte,
Vai um pedaço de mim, um pedaço de mim...

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

AUTO-RETRATO


Salto por cima da bebel de pecados...
O ruflar de minhas asas, como um dragão noturno,
Com o cheiro do enxofre exalado pelos meus pecados,
Diferem muito da plumagem dos anjos que circulam a minha volta.
Fui e sou o misantropo d'alma encarcerada de fuligens,
De tegumentos, paroxismos em cirandas de defeitos.
De intrigas e reflexões profundíssmas, os as psicopatias herdadas
Pela genética falidas os meus antepassados, gritam com os clarins
Inflamados pelo erro.
Ruflam minhas asas, impulsinonam meu ser vagante, e nesta noite
Sobre a babel do pecados, circulam ao meu redor estes anjos vigilantes.
Não me abandoneis então bailarinos dos céus, que enquanto o bater de minhas asas, o Impulso dos meus músculos me impelirem aos ares, que voem vós ao meu lado a vigiar Os meus e os pecados desta torre de babel.

domingo, 24 de agosto de 2008

DESTINO


Armou-se o destino de punhal e caminhou em direção a Roseira
Despetala-a? Não...Decepa-a pela aste.
Armou-se o destino e feriu as frutas com brilhante punhal
Lacrimejou a uva, a maçã, os figos...
Armou-se o destino como nobre cavaleiro, montou seu corcel
Partiu em rumo incerto, cavalgando florestas e desertos
Em busca de alegrias singulares
Assim armado, decepou-me o braço da fortuna, deixou-me em feio inverno
Presenteou-me com mil pesares...
Galgou por cima de poetas, quebrou liras, calou mil brados
Podou sonhos, sonhadores vis tornaram-se seus escravos
Marchou imponete, com sua morte companheira
Matando desde um vil ordinário, até uma nobre roseira.

terça-feira, 19 de agosto de 2008

NADA DE NOVO


E pensando sei que não há nada desses vendavais cochichando nas orelhas dessas mangueiras que eu não saiba...
Nada desses espasmos coléricos vistos em trovoadas,que meus filhos mais novos já não tenham brincado, como brincam e vislumbram o ímpeto furioso na força centrípeta do pião movido pela ponteira entrelaçados nos dedos e o braço fino que o dá vida.
Esses ais de tiros, de mil mazelas...puro reflexos de nós mesmos, nada de novo para a retina cansada, nada de novo para o ouvido faminto.
E nesses dias muídos pelas dores, nessas flores de cera sobre a mesa de minha mãe...paira aí a síntese do homem:
A dor de não ser capaz de fazer mais nada, e nossa vida se reflete como os ecos no bosque cuspido pelo ladrar de cães.

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Evocação do Recife


Recife
Não a Veneza americana
Não a Mauritsstad dos armadores das Índias Ocidentais
Não o Recife dos Mascates
Nem mesmo o Recife que aprendi a amar depois
— Recife das revoluções libertárias
Mas o Recife sem história nem literatura
Recife sem mais nada
Recife da minha infância
A rua da União onde eu brincava de chicote-queimado
e partia as vidraças da casa de dona Aninha Viegas
Totônio Rodrigues era muito velho e botava o pincenê
na ponta do nariz
Depois do jantar as famílias tomavam a calçada com cadeiras
mexericos namoros risadas
A gente brincava no meio da rua
Os meninos gritavam:
Coelho sai!
Não sai!

A distância as vozes macias das meninas politonavam:
Roseira dá-me uma rosa
Craveiro dá-me um botão

(Dessas rosas muita rosa
Terá morrido em botão...)
De repente
nos longos da noite
um sino
Uma pessoa grande dizia:
Fogo em Santo Antônio!
Outra contrariava: São José!
Totônio Rodrigues achava sempre que era são José.
Os homens punham o chapéu saíam fumando
E eu tinha raiva de ser menino porque não podia ir ver o fogo.

Rua da União...
Como eram lindos os montes das ruas da minha infância
Rua do Sol
(Tenho medo que hoje se chame de dr. Fulano de Tal)
Atrás de casa ficava a Rua da Saudade...
...onde se ia fumar escondido
Do lado de lá era o cais da Rua da Aurora...
...onde se ia pescar escondido
Capiberibe
— Capiberibe
Lá longe o sertãozinho de Caxangá
Banheiros de palha
Um dia eu vi uma moça nuinha no banho
Fiquei parado o coração batendo
Ela se riu
Foi o meu primeiro alumbramento
Cheia! As cheias! Barro boi morto árvores destroços redemoinho sumiu
E nos pegões da ponte do trem de ferro
os caboclos destemidos em jangadas de bananeiras

Novenas
Cavalhadas
E eu me deitei no colo da menina e ela começou
a passar a mão nos meus cabelos
Capiberibe
— Capiberibe
Rua da União onde todas as tardes passava a preta das bananas
Com o xale vistoso de pano da Costa
E o vendedor de roletes de cana
O de amendoim
que se chamava midubim e não era torrado era cozido
Me lembro de todos os pregões:
Ovos frescos e baratos
Dez ovos por uma pataca
Foi há muito tempo...
A vida não me chegava pelos jornais nem pelos livros
Vinha da boca do povo na língua errada do povo
Língua certa do povo
Porque ele é que fala gostoso o português do Brasil
Ao passo que nós
O que fazemos
É macaquear
A sintaxe lusíada
A vida com uma porção de coisas que eu não entendia bem
Terras que não sabia onde ficavam
Recife...
Rua da União...
A casa de meu avô...
Nunca pensei que ela acabasse!
Tudo lá parecia impregnado de eternidade
Recife...
Meu avô morto.
Recife morto, Recife bom, Recife brasileiro
como a casa de meu avô.

Manuel Bandeira

Caros leitores. Vez em quando haverei de postar aqui alguns poemas que acho de fundamental importância. Este é o primeiro de muitos poemas dos gigantes de nossa literatura.

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

VATES


Olho a noite e as brumas que a fazem
Vejo os poetas e os versos que vagueia pelas ruas
E a minha pena que nada escreve, nada vale
Como nada vale cantar mais coisa alguma

Estalam os olhos de planetas e de satélites
Debruçam os olhos sobre os mistérios desta noite
Sente o poeta que não escreve, estes olhares
Sente o poeta que verseja coisa alguma

Sente o vate que não escreve mil pesares
Escreve um outro dores que não sentiu nenhuma
Sangra um peito invisível mil verdades
Gritam verdades um peito que não tem nenhuma

Passos andam pelas ruas, nos cabarés
Boleros ilustram habilidades fúteis
Passos estanques de um vate de viés
Que não são vistos, mas que porém, são bem mais úteis.

SOLO FÉRTIL



Ao longo do tempo, pesa o ter que arrastar grilhões.
E assim as vidas amargam, as faces sugadas, as asas podadas
Daí brotam os malsões e as almas decepadas...
Abre-se daí a palma da mão ao vento, e as utopias são jogadas as tufões
E num bailar sem graça, sem música, sem poesia
Numa dança macrabra, numa tez opaca de metal lixado
Pende para um lado a vida, para três lados a morte.
Não é mais homem, nem mulher tampouco criança. És um feixe de músculos, de ações levadas por uma harmonia conduzida por uma batura qualquer, menos a própria consciência.
Anda indiferente as crateras da lua que pisas, do ar que lhe falta, da fome que lhe sangra e do desamor que lhe cega.
No cume da injúria latejam os ossos de dor,brada a alma por poesia, os tímpanos por música, as retinas pelo descanso da tela, e ele grita:
- Quem sou? Levo ou sou levado pela brida? De onde vieram tais pegadas? Onde estou e de onde fui levado?
Nada responde. O orvalho sangra mil cores num prisma sobre seus olhos e a alma sensível as capta.
Nada responde? Se lhe jorram harmonias de seu próprio peito, fétil como terra roxa?
Tudo certamente agora vos fala, pois o despertar de um homem é ter a alma infestada de poesia.

domingo, 3 de agosto de 2008

HISTÓRIA


O pó dos dias que não vivi,
Arrasta-se sobre minhalma.
Meu perfil, meus cabelos ao sabor dos vendavais, meu ser enfim
Sou pego pelas fuligens que irão finalmente me compor...

Ao nascer e crescer formado pelos sonhos, e pela realidade que não me convém.
Assim sou formado, pela ciranda que me circula, pelo arrastar de sonhos e as partículas que compõem minha realidade.

quinta-feira, 31 de julho de 2008

BOLERO COM SATURNO


Nas cizas das horas, um dia ainda ei de partir.
Não um partir anunciado, não pela tristeza de um dia chuvoso, deixando meus passos leves ferindo o chão...
Haverei de esticar as asas lá pelas duas da tarde, na hora dos cochilos depois do almoço...na hora que os meus irmãos de alma estão com os pulsos a fabricar o país...aí estarei de malas feitas para um daqueles anéis de saturno, pegar o mesmo pela cintura, enlaçá-lo num bolero, num tango qualquer...
Aí sim estarei tranquilo. Os meus irmãos de alma trabalhando e eu cá, com saturno aos saltos no universo.

terça-feira, 29 de julho de 2008

COM OS OLHOS DE ACHAR POESIA


Do porto as velas cercam o sol no fim da tarde
Os homens descarregam das jangadas a geometria infinda das redes
Na peregrinação dos músculos cansados
No olhar crispado dos peixes

No fim da tarde o sol escorre como a lágrima na face,
As ondas se movimentam como a respiração, como arfar de um peito
E com efeito, o sol que lambe os rostos ainda arde
Arde como a paixão, sem brida, arreio ou freio.

No fim das tardes, do chocalho de dias que são os anos
A escaler, a jangada, os peixes, as ondas ainda se hamonizam
E na mesma valsa dançam, sob as retinas deste olhar praiano.
No fim da tarde ninguém diria, mas tudo é possível, com os olhos de achar poesia.

sábado, 26 de julho de 2008

LIBERDADE


Não mais quero o sabor das uvas rançosas
Nem as migalhas de sol por arestas escorridas pelas frestas das telhas...
Não mais quero o água nesta represa de potes.
Não mais a arte apenas na cor das asas dos pássaros em minhas gaiolas...
Liberdade ao pássaro e às minhas retinas.
Liberdade a água represada nos potes de minhas retinas...liberdade ao sabor e vida longa aos beijos.
Porque senão pela dança da liberdade do paladar, dos cheiros dos perfumes nas novas raparigas, das retinas debruçadas em novas paisagens e o apalpar do meu tato em novas paisagens...não há nada senão a escravidão da alma e uma bigorna contendo o passo de cada um dos meus sentidos.

quarta-feira, 23 de julho de 2008

O BRILHAR DAS GARRAFAS


É sob esse luar, esta luz de mercúrio que me toca...
É sob a harmonia dos bêbados, das bolas do bilhar, do brilhar das garrafas...
Quer hoje nasce este poema turvo e sujo como o sangue na navalha que fere a carne.
Pois carnes são feridas na guerra, na guerra dos olhares calados, calados pela mordaça do desejo e do freio da timidez.
É sob esse luar, que a sordidez do poeta se mostra e seus desejos mais primevos se desencarceram e sorreiem na noite tresloucados como hienas gargalhando do próprio oportunismo.
É assim que as almas se comportam meus caros poetas! Com a brida da educação sobre os instintos. E eu com a face magra, cercada pelas combracelhas groças e barba rala exponho meus desejos na varanda da alma. Para que a brisa possa escorrer seus dedos sobre eles, na esperança que no chocalhar de dentes eles acertem uma vítima qualquer.
Sobre o o dorso de minha alma não há ninguém a conduzir a brida, e nem de brida precisam meus caros instintos.

Quem viu o passo pisar no lírio?
Quem viu a lâmina sobre a carne?
Quem viu o tiro no coração sombrio?
Quem viu a lágrima do meu olhar que arde?

Quem viu-me no terror da noite densa?
Quem viu-me no prado a sangrar sozinho?
Quem viu a queda das torres das crenças?
Quem viu as mãos calejadas por mil espinhos?

Ah senhores que o viço brinca ainda pela vida
Que os clarins que cantem o teu porvir
Vos alertem das chagas e feridas

Que a galope ainda estão por vir
Que a vida que viverão seja curtida
Sob o sol da verdade a reluzir

domingo, 13 de julho de 2008

VISÕES


Mas quem te vê, quem te descreve quando és somente outono?
Quem se lembra de tí, quando não tem mais o viço da primavera,
Quando não tem mais os teus cargos, teus tronos?
Quem se lembra de tí no auge de tua dor primeva?

Qual dos amores, qual dos prazeres
Tu persiste em confundir
Qual da vileza desses seres
Pode ser como meu amor que funde-se em tí?

E quem sabe das minhas esperanças perdidas,
Renascidas nas migalhas de teu olhar.
E quem sabe do medo de encarar-te
Quando já sabe do verdadeiro motivo de minhas feridas.

E quem me sabes como um ex-amigo
Não sabe que és em mim eterna e viva
Que és chagas e bálsamo, tufão e brisa
És a única estrada que meu peito brada: - Siga...siga...siga.

CONTEMPLAÇÃO DA DOR


As noites de trevas perseguem as vitórias
E os quase heróis fraquejam, perecem e morrem
E assim nascem as histórias
Para os que acreditam nos versos que lêem, com a mesma pressa que correm.

Nascem as trevas infindas e obscuras,
Mas riscam os céus as estrelas cortando como lâmina as brumas.
Nascem para os ais e gemidos todas as curas...
Assim como somem os sonhos, no aluvião de cinzas do cigarro que fumas

As noites de trevas, de medo, serão uma constante
Mas resta aos homens de figa, soprar as brumas
Como quem afasta um vaso ou uma estante
Sem perturbar a tez, como quem não faz coisa alguma

Como quem sopra as plumas no céu perdidas,
Qual o vento se põe a soprar a vela de um escaler.
Como o sol e as trevas que saram feridas
Como quem sara um câncer, tal como uma ferida qualquer.

terça-feira, 8 de julho de 2008

TRAGO


Corre a fumaça pelas narinas do poeta,
Abanam as folhas do peito da chapada
Corre, desenha no ar como flecha...
Voa, move as velas da fragata

Dança, move, aciona mil ondas
Faze-se brisa, minuano, tufão.
Trago maldito que vaza das narinas no poeta
Deixam pegadas naquele coração.

Lambam as pás dos moinhos holandeses,
Movam as astes dos tantos trigais
Trago poético, cinzento esbravaja
Tua cor na palha daqueles coqueirais.

quinta-feira, 26 de junho de 2008

OPORTUNIDADE NO JORNAL DO CARIRI


Fiz essa postagem com um enorme atraso. Nem sei se o jornal ainda está aceitando os textos, mas, de todo modo aí está a divulgação.

REFLEXÕES


Nem tudo é tão real quanto parece.
E nem tão ruim quanto parece ser.
Nem todos os pensamentos são racionais,
Assim como nem toda lógica funciona com uma simples explicação.
Muito pouco do que sentimos pode ser explicado,
Até mesmo porque, menos ainda pode ser entendido.
O melhor de tudo isso é que um verdadeiro poeta não tem que explicar seus sentimentos...mas apenas voltar a pena de acordo com o hálito que cada um deles expira...
Pois a melhor lira canta aos acordes movidos pela brisa, e não pelos dedos vulgares de um ser humano...
Portanto homem, se queres verter teu pranto de modo honesto, seja tão leve quanto a brisa, e logo seu pranto tomará a mesma dimensão...
Se queres cantar feito um poeta, rompa os grilhões do que te condiciona-te...
E assim sede feliz...ou se por alguma lógica superior ao teu entendimento,seja infeliz,para mais tarde, se caso seja merecedor da felicidade,possa por fim goza-la plenamente,pois homem algum pode ser feliz sem ter vertido o pranto para aguar a árvore da felicidade.

terça-feira, 24 de junho de 2008

DOR


No instante que a lágrima cai não há poesia
Há um registro de dor,
Uma falta de sentido, em tudo que existia

Há feras nas brumas, que assustam o poeta
E sua lira desfolha, qual folhas de outono
Que tocam, (as lágrimas e folhas), a tez da terra

Portanto, para o poeta nada mais há senão o brado,
Nada mais resta senão a dor em plana luz do dia
que lhe fere os olhos, como a terra é ferida pelo corte do arado.

Seus passos não o levam mais a outros mundos,
E aqui jaz o poeta, jaz entre os potros e éguas
Nos umbrais de trevas mais imundos.

Ergue sua mente e em sua frente nada há senão a escuridão,
Não há mais Norte e sua sorte perdeu-se com sua fé.
Sente dores, tão fortes que nem mesmo mil formas de morte o salvão.

segunda-feira, 23 de junho de 2008

COTIDIANO


Ergue-se o sol em minha cidade,
Erguem-se os portões do comércio
Erguem os bêbados os seus copos,
A bunda da mulata, o sr. a gravata
E tudo isso faz declinar minha sensibilidade

Erguem-se as asas do anjo,
Declina a fé da senhora sob o altar
Ergue a saia da mulata o malandro
Enquanto isso declinam meus sonhos num sono
A sonhar, a sonhar...

Ergue-se o laranja do fim de tarde
Ergue-se a lua bem longe
Enquanto guerreia o sol no horizonte,
Mas perdeste. Já era a tarde, era tarde

Grita a lua crescente
Ergue os pulmões em alarde
Chegam estrelas em socorro
E o céu elas invadem, invadem...

Programa Rumos Itaú Cultural prorroga inscrições


Aos artistas do Cariri que desejam participar dessa grande oportunidade de mapeamento e exposições, o Programa Rumos Itaú Cultural de Artes visuais prorroga as inscrições.

O Itaú Cultural dá continuidade ao programa que, desde 1997, incentiva e premia novos talentos. No biênio 2008-2009, acontece a quarta edição da categoria Artes Visuais, que fará o mapeamento deste momento da produção contemporânea, contemplando obras em diversas linguagens e suportes.

O edital impresso do programa é distribuído gratuitamente em instituições de todo o Brasil. Confira a lista de endereços. Para informações sobre os encontros que acontecem em todo o Brasil, acesse o blog do programa.

Inscrições
Rumos Artes Visuais
até terça 24 junho



Mais informações: http://www.itaucultural.org.br/
Fonte:http://www.artesvisuaiscariri.blogspot.com/
Postado por chrystianmarques