quarta-feira, 22 de julho de 2009

POEMA DE AMOR DE UM POETA FRIO

Eu que da placenta das quimeras
Arranquei meu sonho mais realista
E de lá, feito um pássaro ligeiro
Saiu você, nívea feito à nuvem,
Púrpura feito o entardecer,
Quente, de olhos negros
Feitos meus pensamentos mais tenebrosos

Nasce do pântano das minhas dores
Do balsamo das minhas ilusões
Dos delírios das minhas chagas
Achas neste pântano de fuligens
Uma alma tristonha, mas um coração em flores

Achas um rosto trigueiro e frio
Mas que não reflete em sua tez
A altivez do meu próprio brio
Pois amor surge em mim como bálsamo,
Uma gota de cada vez.

Imagem: André Ulysses de Salis

Um comentário:

Anônimo disse...

(...)
Não sei se são bons ou maus estes versos; sei que gosto mais deles do que de nenhuns outros que fizesse.
Por quê?
É impossível dizê-lo, mas é verdade. E, como nada são por ele nem para ele, é provável que o público sinta bem diversamente do autor.
Que importa?
Apesar de sempre se dizer e escrever há cem mil anos o contrário, parece-me que o melhor e mais reto juiz que pode ter um escritor é ele próprio, quando o não cega o amor-próprio.
Eu sei que tenho os olhos abertos, ao menos agora.
(...)

Almeida Garrett