segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Para quem não sabe o que é conservadorismo: Roger Scruton!

Em outubro de 2009, o Clarion Review publicou uma ótima entrevista com o filósofo político Roger Scruton que foi traduzida pelo blog português Dextra, que não mais existe. Felizmente, o blog Nada disto é Novo havia reproduzido a maior parte da tradução. Alguns trechos:

Como o Sr. encontra tempo para escrever, ensinar, ser fazendeiro, dar consultorias, caçar e viver? O Sr. segue uma disciplina diária severa?

Tenho sido abençoado com energia e disciplina desde terna idade. E observo uma disciplina severa: borgonha branco às 7:30 da manhã e claret ao jantar.

O Sr. descreveu o conservadorismo como sendo "amar o mundo pelo que ele é." O que o Sr. quer dizer com isto?

O conservadorismo envolve, como você diz, amar o mundo como ele é -- não todo ele, mas aquela parte que conseguimos receber dos mortos. Isto significa reconhecer o quanto é mais fácil destruir que criar. Isto envolve uma atitude de amizade em relação à comunidade, ao invés de um desejo de refazê-la em cumprimento a algum objetivo oni-abrangente. E assim por diante.

O que diferencia o conservadorismo do liberalismo ?

O problema com o liberalismo clássico é que ele nunca pára para examinar o que está em questão quando se diz "não prejudicar os outros." Será que deixo os outros ilesos quando destruo minha capacidade de me relacionar pessoalmente por causa do uso de drogas, promiscuidade e vício em pornografia? Será que deixo os outros ilesos quando me entorpeço com música pop? Não tenho nada contra o individualismo, desde que se reconehça que o indivíduo é criado pela comunidade e pelos limites morais que aí prevalecem. O indivíduo não é a fundação da sociedade, mas seu sub-produto mais importante.

Muita gente considera o conservadorismo uma forma de nostalgia romântica, uma reverência irracional ao passado. Como o Sr. responderia a isto?

Todas as formas de crença social e política que temos diante de nós, hoje, se relacionam com o movimento romântico, pois este é o arquétipo de nossa contínua tentativa de viver de acordo com nossos próprios planos. Na verdade, isto se aplica mais ao socialismo do que ao conservadorismo -- sendo o socialismo uma espécie de nostalgia mórbida do futuro, que é ainda mais prejudicial do que a nostalgia do passado. E esta palavra, "nostalgia" -- o que significa? A ânsia pelo nostos, o "retorno ao lar", oHeimkehr, que é o coração de qualquer reflexão séria sobre nosso tempo na terra. Só é preciso se distinguir entre as formas positivas e negativas dela. O Renascimento foi um grande movimento de nostalgia em relação ao mundo clássico; e veja como ele abalou tudo!

A via da alta cultura pode servir como um substituto para a fé religiosa? A via estética não está restrita a uma pequena elite?

Nada pode substituir a fé sobre a qual uma civilização foi construída. Mas a alta cultura pode beneficiar a todos, mesmo que seja só uma elite que participe diretamente dela. A ciência benficia a todos, muito embora só uns poucos a entendam. Acredite ou não, o mesmo vale para Beethoven, comos os ingleses descobriram na última guerra. Os concertos e transmissões de música clássica, sobretudo da quinta de Beethhoven, tornaram-se símbolos de uma rebeldia que não poderiam ser facilmente representados pela cultura popular, que não ia tão longe dentro do espírito. As elites são necessárias aos que não pertencem a elas; e aquilo que serve como alimento para o espírito dos líderes é alimento para os que seguem.

O Sr. já escreveu que muitas instituições educacionais permanecem sob o controle de uma "cultura do repúdio" nihilista. O que os estudantes modernos podem fazer para adquirirem uma educação adequada e se civilizarem, dadas as distrações da vida moderna?

A auto-ajuda é uma filosofia tão válida hoje quanto no século 19. Eu me lembro de ter visitado estudantes nos antigos países comunistas que tinham sido expulsos das universidades e tomavam a iniciativa de convidar pessoas do Ocidente (e sobretudo anti-socialistas como eu) para falar para eles. Pessoas inteligentes sempre conseguem se erguer acima de seu meio, desde que se armem com as três grandes armas conservadoras: o humor, a ironia e o desprezo.

O Sr. recentemente se mudou para os Estados Unidos e agora divide seu tempo entre o interior da Virgínia e a Inglaterra. Do que o Sr. mais gosta na Virgínia? E do que o Sr. sente falta na Inglaterra e que seria mais bem-vindo se fosse possível trazer no avião?

Os refugiados do estatismo europeu sempre ficam espantados em descobrirem na América uma sociedade na qual as pessoas ainda sentem prazer no sucesso dos outros. O ressentimento ainda não é a atitude dominante lá. E quando há um desastre, as pessoas se apressam em ajudar. Eles também se oferecem como voluntários para serviços de resgate e coisas assim e têm um interesse real em melhorar a comunidade -- uma coisa que Tocqueville notou no século 19 e ainda é verdade hoje. A América é uma sociedade fundada no ato de dar, não de pedir. A Europa é uma sociedade construída sobre os "direitos humanos"; em outras palavras, exigências mesquinhas por cuidados alheios.
Por outro lado, há aspectos da Europa -- e da Inglaterra, em particular, de que sinto falta lá. A mais importante é uma legislação urbanística construtiva e sensata. A América é uma bagunça, com cidades esfaceladas e evisceradas, áreas centrais metropolitanas que são abomináveis e não têm semáforos ou espaços públicos e uma zona rural invadida pela expansão dos subúrbios. É espantoso ver que um país tão rico e tão bem bem abastecido pela natureza tenha decidido tornar-se um depósito de lixo. Por outro lado, em muito deste lixo aparece um sorriso da Disneylândia e devemos ficar gratos por isto.

Fonte: http://www.brunogarschagen.com/

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