quinta-feira, 27 de maio de 2010

O declínio da cultura ocidental

Algumas notas sobre o livro "O declínio da cultura ocidental" do Allan Bloom.

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Quando reparei pela primeira vez no declínio da leitura, no final da década de 60, passei a perguntar às minhas enormes turmas dos anos preliminares, e a grupos de alunos mais novos, que livros realmente contavam para eles. A maioria ficava em silêncio, embaraçada com a pergunta. Para eles, era estranha a noção de livros como companheiros.
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Se os estudantes não possuem livros, em compensação adoram a música. Semelhante apego é o que há de mais notável nesta geração. Estamos na era da música e dos estados de espírito que a acompanham.
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[A] música dos devotos de hoje, porém, não conhece classes nem nações. Está disponível 24 horas por dia, em toda parte. Possuímos estéreo em casa e no carro; temos concertos, vídeos musicais e assim por diante, não esquecendo os walkmen. Em resumo, não há um só lugar – nem os transportes públicos ou as bibliotecas – em que os estudantes não possam comunicar-se com a Musa, até mesmo nos momentos de estudo. Acima de tudo, aliás, o solo musical ganhou tropical riqueza. Nada de esperar por gênios imprevisíveis. Agora os gênios abundam, produzindo sem parar; cada herói que tomba, dois logo se erguem para assumir o lugar. O que menos escasseia é o novo e o inesperado.
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Pense num garoto de 13 anos sentado na sala de estar de sua residência estudando matemática com os fones de ouvido do walkman ligado ou então assistindo à televisão. Está usufruindo as liberdades duramente conquistadas ao longo de séculos pela aliança do gênio filosófico e do heroísmo político, consagrada pelo sangue dos mártires. Goza de conforto e de ócio, graças à economia com a maior produtividade que a história já conheceu; a ciência penetrou nos segredos da natureza para lhe proporcionar som eletrônico e reprodução de imagem que imita a vida. E, afinal, em que culminou o progresso? Uma criança púbere cujo corpo vibra com ritmos orgásmicos, cujos sentimentos se articulam em hinos às alegrias do organismo ou à morte dos pais, cuja ambição é ficar famoso e rico imitando a rainha das marafonas, que faz a música. Resumindo, a vida, se transformou numa interminável fantasia masturbatória pré-empacotada.
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Fonte:
Bloom, A. 1989. O declínio da cultura ocidental: da crise da universidade à crise da sociedade. SP, Best Seller.

Sobre o mesmo tema, caso alguém tenha interesse recomendo "A origem dos grandes êrros filosóficos" do Mário Ferreira dos Santos, "O eclipse da razão" do Max Horkheimer, "A Cinza do Purgatório" do Otto Maria Carpeaux. Por aí dá para começar a quebrar a cabeça e perceber que pelo menos filosoficamente a nossa situação atual não é tão boa.

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