Não à toa, a Academia "se tornou o local onde a ignorância é levada às últimas conseqüências" (by Millôr). É que aqueles que deveriam zelar pela sua qualidade são os primeiros a cultivar corporativismos, facilidades burocráticas ou mesmo baixo proselitismo. "Aqueles que deveriam zelar", alguém pergunta, "quem são?". Os professores, ora essa! Eles mandam naquilo, ou assim deveria ser, e mandando, assumem necessariamente aquilo que vem com o poder: a responsabilidade. Eles dão o exemplo. Mas Pedro Sette-Câmara nos comenta um caso assaz interessante...
Por Pedro Sette-Câmara
Ando de metrô aqui no Rio quase todos os dias. E quase todos os dias penso que vou morrer, porque as pessoas se aglomeram nas portas, e, apesar de eu ser um sujeito pacífico, sou obrigado a empurrar alguém para entrar, o que faço, admito, sem grandes pudores. Afinal, não existe exatamente um dilema entre eu me atrasar e algum boçal ficar lambendo a porta do trem só porque acha isso gostoso.
Mas bem, nem é desse grave problema civilizacional que quero falar. Quero contar, compartilhar uma coisa que vi essa semana. Dirijo-me como um ser civilizado ao famoso centro do carro e vejo que, sentado, um homem tira da mochila uma apostila, dessas com espiral. É um trabalho acadêmico. É um trabalho de conclusão de curso, e o curso é um MBA do IBMEC. O autor do trabalho é uma mulher.
Em coisa de dois minutos (sim, eu contei) o sujeito folheia o trabalho, saca um papel, e o preenche com a nota — 7,5 — e uma justificativa. Eis que chegamos à estação do Catete. Mais um trabalho de conclusão de curso, assinado por Daniel Sobrenome Whatever (lembro bem, posso dizer qual era, upon request), sai da mochila do sujeito, e, assim que chegamos à estação seguinte, a da Glória, após menos de dois minutos, temos mais uma nota: 7. Não, um momento: enquanto ele preenchia a justificativa da nota, achou melhor alterá-la para “aprovado sujeito a modificações”.
Sei por experiência que corrigir trabalhos é chato, e não pouco. Sempre pensei que, dando aula regularmente, só daria provas e daria a meus alunos um número máximo de caracteres ou de palavras, a fim de que eles não fossem prejudicados pela minha falta de paciência com as embromações acadêmicas. Mas, hélas, também já gastei horas escrevendo trabalhos, e já gastei muito dinheiro com aulas. Não foi para que meus trabalhos fossem corrigidos entre a Glória e o Catete. O que vi pode ter sido um caso isolado. Só para garantir, recomendo que você torre a paciência do seu professor. Você pagou, ele recebeu. A melhor maneira de começar a melhorar a educação brasileira é fazer com que o professor saiba que cada movimento dele é impiedosamente analisado.
Retirado de PedroSette.com.
Por Pedro Sette-Câmara
Ando de metrô aqui no Rio quase todos os dias. E quase todos os dias penso que vou morrer, porque as pessoas se aglomeram nas portas, e, apesar de eu ser um sujeito pacífico, sou obrigado a empurrar alguém para entrar, o que faço, admito, sem grandes pudores. Afinal, não existe exatamente um dilema entre eu me atrasar e algum boçal ficar lambendo a porta do trem só porque acha isso gostoso.
Mas bem, nem é desse grave problema civilizacional que quero falar. Quero contar, compartilhar uma coisa que vi essa semana. Dirijo-me como um ser civilizado ao famoso centro do carro e vejo que, sentado, um homem tira da mochila uma apostila, dessas com espiral. É um trabalho acadêmico. É um trabalho de conclusão de curso, e o curso é um MBA do IBMEC. O autor do trabalho é uma mulher.
Em coisa de dois minutos (sim, eu contei) o sujeito folheia o trabalho, saca um papel, e o preenche com a nota — 7,5 — e uma justificativa. Eis que chegamos à estação do Catete. Mais um trabalho de conclusão de curso, assinado por Daniel Sobrenome Whatever (lembro bem, posso dizer qual era, upon request), sai da mochila do sujeito, e, assim que chegamos à estação seguinte, a da Glória, após menos de dois minutos, temos mais uma nota: 7. Não, um momento: enquanto ele preenchia a justificativa da nota, achou melhor alterá-la para “aprovado sujeito a modificações”.
Sei por experiência que corrigir trabalhos é chato, e não pouco. Sempre pensei que, dando aula regularmente, só daria provas e daria a meus alunos um número máximo de caracteres ou de palavras, a fim de que eles não fossem prejudicados pela minha falta de paciência com as embromações acadêmicas. Mas, hélas, também já gastei horas escrevendo trabalhos, e já gastei muito dinheiro com aulas. Não foi para que meus trabalhos fossem corrigidos entre a Glória e o Catete. O que vi pode ter sido um caso isolado. Só para garantir, recomendo que você torre a paciência do seu professor. Você pagou, ele recebeu. A melhor maneira de começar a melhorar a educação brasileira é fazer com que o professor saiba que cada movimento dele é impiedosamente analisado.
Retirado de PedroSette.com.
Nenhum comentário:
Postar um comentário