Publicado originalmente na Revista Moviola, durante o Festival do Rio 2010.
Christian, Luc, Christophe, Célestin, Amédée, Jean-Pierre, Michel e Paul vivem em mosteiro na Argélia, durante a Guerra Civil, em 1996. A perfeita harmonia com a população muçulmana local, que tolera e apóia a missão católica, no entanto, desaparece quando grupo fundamentalista islâmico mata trabalhadores croatas a 20 quilômetros dos religiosos. Christian, líder dos monges, recusa a proteção do governo corrupto, da mesma forma que não socorre os radicais. É o livre-arbítrio que os ajuda a decidir, se permanecem ou se voltam para a França.
Grande Prêmio do Júri no Festival de Cannes, Of Gods and Men detalha, por um lado, as minúcias da liturgia religiosa e, por outro, o dia-a-dia dos frades com a comunidade e as tarefas laborais que exercem. O sagrado e o mundano, as duas faces de Cristo e daqueles que O aceitaram no voto de pobreza: ao mesmo tempo, Deus e Homem, uno e indivisível.
Os monges duvidam, como Jesus no Getsêmani – “Pai, afasta de Mim este cálice”. Embora a missão não esteja completa e os habitantes dependam dos serviços que os religiosos lhes prestam, eles não são mártires e temem que os fundamentalistas islâmicos entrem no mosteiro. Velhos, fracos e doentes, relembram-se de casa, da família e de tudo que deixaram por suas vocações. Clamam a Deus e se angustiam: ficar na comunidade ou partir? Mas a consciência de que o pastor não abandona o rebanho, sobretudo nos momentos difíceis, finalmente se impõe.
Xavier Beauvois filma cerimônias, sejam litúrgicas, sejam profanas. As missas na igreja, as leituras da bíblia, a oração do imã para Alá, a festa para o garoto na vila, o atendimento médico sempre nos mesmos horários. Na sequência em que os frades votam e permanecem na Argélia, Of Gods and Men emula a última ceia, ritual católico em que o o corpo e o sangue de Jesus se transmutam, respectivamente, na hóstia e no vinho consagrados: o sacrifício dos monges que remete ao Cordeiro, cuja morte livrou os homens de seus pecados.
Os radicais sequestram e matam Christian, Luc, Christophe, Célestin, Michel e Paul. Não sem que antes Christian escreva carta-testamento em que declara seu amor pelos injustiçados e miseráveis, pelo verdadeiro Islã e pela tolerância religiosa.
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