Um fim de tarde com as réstias de sol vinda dos quintais
Invadindo a cozinha.
O verdadeiro amor sempre me lembra um fim de tarde.
Eu copiando os quadros do Renoir aos dez anos de idade
A chuva de verão, a faca sangrando os figos para o sabor dos olhos,
O cheiro de domingo, a ânsia pelo momento certo de cruzar olhares
De enlaçar línguas, de invadir-se em cheiros
É calma a esperar o soneto que guardo aqui,
Pacífico e revolto, na véspera de sair entre os dedos
Como se corressem feito o suor em meu corpo
É o voo das folhas, o passo da moça
A perna morena, a violência do olhar.
O negar-se por outros, é o chegar no momento
É um tormento tão doce, e se assim não foste, não era amar.
Foto: Mário de Oliveira
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